quarta-feira, 25 de junho de 2025

ESCUTAR O CORPO


Aprendi com o tempo que para o nosso próprio bem jamais devemos contrariar o corpo.

 

Se ele quiser deitar, que se deite. Se não quiser comer, não coma.

 

Essa é uma das leis mais sábias da natureza — e ignorá-la é sempre um erro.

 

Tenho seguido esse princípio em tudo que faço, especialmente quando escrevo.

 

Se não estou com vontade de escrever, deixo o tempo passar. Logo surge aquela inquietação boa — a escrita se impõe como necessidade.

 

Se insisto antes da hora, fico curvado sobre o teclado sem produzir uma linha sequer.

 

A criação exige um raio de inspiração, desses que iluminam de repente a tela em branco do Word.

 

E mais: a inspiração não pode ser armazenada.

 

Quando chega, deve ser logo acolhida e compartilhada.

 

Às vezes começo um texto e demoro dias para terminá-lo.

 

Ainda nem concluí este, e já estou pensando no próximo.

 

Se demorar muito, posso acabar esquecendo a ideia inicial.

 

Por isso anoto, ao menos, o futuro título, para não perdê-lo.

 

O nosso corpo — ou melhor, o nosso cérebro — é um prodígio.

 

Muitos pesquisadores o estudam, e ele continua sendo uma caixinha de segredos.

 

Dizem que ali nascem todos os sentimentos — dos mais tênues aos mais avassaladores.

 

É a morada dos mistérios que faz a vida valer a pena.

 

O neurocirurgião passeia por ele e não vê nada de anormal, porque a ciência ainda tem a chave para os nossos afetos.

 

Grosseiramente chamamos de ‘corpo’ tudo aquilo que nos avisa, que nos inquieta — e acabamos obedecendo.

 

Deitamos, tomamos banho, namoramos... como se tudo viesse de comandos do corpo.

 

Na gravidez o desejo extravagante que certas mulheres sentem é o corpo buscando o impossível.

 

A verdade é que hoje não contrariei o meu corpo — e me dei muito bem.

 

Fiquei duas horas na cama e, ao voltar ao escritório não encontrei dificuldade para concluir este texto.

 

Nunca mais contrariarei o meu corpo.

 

Gabriel Novis Neves

21-06-2025




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