Aprendi com o tempo que para o nosso próprio bem jamais devemos contrariar o corpo.
Se ele quiser deitar, que se deite. Se não quiser comer, não coma.
Essa é uma das leis mais sábias da natureza — e ignorá-la é sempre um erro.
Tenho seguido esse princípio em tudo que faço, especialmente quando escrevo.
Se não estou com vontade de escrever, deixo o tempo passar. Logo surge aquela inquietação boa — a escrita se impõe como necessidade.
Se insisto antes da hora, fico curvado sobre o teclado sem produzir uma linha sequer.
A criação exige um raio de inspiração, desses que iluminam de repente a tela em branco do Word.
E mais: a inspiração não pode ser armazenada.
Quando chega, deve ser logo acolhida e compartilhada.
Às vezes começo um texto e demoro dias para terminá-lo.
Ainda nem concluí este, e já estou pensando no próximo.
Se demorar muito, posso acabar esquecendo a ideia inicial.
Por isso anoto, ao menos, o futuro título, para não perdê-lo.
O nosso corpo — ou melhor, o nosso cérebro — é um prodígio.
Muitos pesquisadores o estudam, e ele continua sendo uma caixinha de segredos.
Dizem que ali nascem todos os sentimentos — dos mais tênues aos mais avassaladores.
É a morada dos mistérios que faz a vida valer a pena.
O neurocirurgião passeia por ele e não vê nada de anormal, porque a ciência ainda tem a chave para os nossos afetos.
Grosseiramente chamamos de ‘corpo’ tudo aquilo que nos avisa, que nos inquieta — e acabamos obedecendo.
Deitamos, tomamos banho, namoramos... como se tudo viesse de comandos do corpo.
Na gravidez o desejo extravagante que certas mulheres sentem é o corpo buscando o impossível.
A verdade é que hoje não contrariei o meu corpo — e me dei muito bem.
Fiquei duas horas na cama e, ao voltar ao escritório não encontrei dificuldade para concluir este texto.
Nunca mais contrariarei o meu corpo.
Gabriel Novis Neves
21-06-2025
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