domingo, 2 de fevereiro de 2025

VIAJAR ESCREVENDO


Viajar é uma viagem, dizia o poeta.


Aproveito o domingo tranquilo para explorar os caminhos da minha imaginação.


Quando não escrevo, sinto que algo me falta — ainda mais nestes tempos de tantas ausências.


E quando o entardecer chora, embalado pelas persistentes chuvas de janeiro, a melancolia se insinua.


Se nesta viagem buscava poesia, encontrei-a na melodia das águas que despencam do céu.


Nenhum ruído invade a solidão do meu escritório, no vigésimo andar de um edifício no coração da cidade.


Apenas o som da chuva bendita, que acalma e purifica a alma.


Dizem que a chuva lava os pecados.


Talvez seja verdade.


E, enquanto tudo lá fora parece distante, as lembranças permanecem comigo, inquietas.


Será dor ou paixão esse sentimento que me toma entre os extremos?


Se os remédios não curam, talvez seja paixão.


Retorno à superfície e me pergunto: por que acordar deste sonho que gostaria de prolongar?


Talvez porque os anos acumularam desejos calados.


Mas, ao escrever, sou levado a trilhar caminhos desconhecidos.


Ah, que maravilha é o cérebro — audaz e solitário, jorrando emoções como uma fonte incessante!


Por que me sinto assim neste fim de tarde?


Os trovões murmuram ao longe, abafados pelo canto da chuva, que agora dança com mais força.


E essa sensação doce e envolvente me afasta da realidade.


Mas que realidade tola é essa, que tenta roubar meu devaneio?


Os poetas não sofrem — escrevem.


Seus versos são lampejos que escapam à censura da razão.


Já é noite, e preciso repousar desta viagem.


Amanhã será outro dia, com novas rotas a explorar, ainda que sem tempestades.


Como é bom brincar de viajar pelos pensamentos, onde a liberdade desfralda sua bandeira!


A noite chegou, sem lua ou estrelas — apenas a companhia da chuva, agora entrelaçada a raios e trovões.


Gabriel Novis Neves

12-01-2025




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