sábado, 22 de fevereiro de 2025

ESCREVER DURANTE A SESTA


Tem me acontecido com certa frequência escrever durante a sesta.

 

Com a repetição desse fenômeno, que considero estranho, passei a refletir.

 

Quando estudante de Medicina, tinha fome de conhecimento e estava sempre presente nos cursos de extensão, especialmente os ligados à psicologia.

 

Naquela época, o hipnotismo estava em alta e, na maternidade onde estagiei, aprendi a realizar partos com episiotonomia sem anestesia local.

 

Fiquei fascinado com a possibilidade de realizar cirurgias maiores apenas por meio da hipnose, como se fazia na Índia e na China.

 

Outra ciência muito difundida por lá era a acupuntura, aquela das agulhinhas, aplicada por médicos anestesistas e fisioterapeutas.

 

No segundo ano de Medicina assisti a uma aula prática de hipnose coletiva em um grande teatro da Tijuca. Dizem que quem não quer ser hipnotizado jamais será.

 

Mas quem deseja... facilmente flutua no subconsciente.

 

De olhos fechados e mãos dadas com os demais, comecei a seguir os comandos do hipnotizador. Senti que meu consciente se esvaia.

 

Temeroso quanto ao meu retorno, abri os olhos e despertei. Muitos da plateia, no entanto, mergulharam em sono profundo.

 

Anos depois, em Cuiabá, participei de algumas aulas no anfiteatro do Colégio Estadual — creio que em 1969 — e aprendi os fundamentos da hipnose.

 

Cheguei em casa entusiasmado e anunciei à Regina, que se recusou a ser hipnotizada. Mas Miris, nossa funcionária, aceitou a experiência.

 

Consegui induzí-la a um sono profundo.

 

Minha preocupação então passou a ser o seu despertar.

 

Abandonei a ideia, mas até hoje, vez ou outra, alguém me pergunta se sou hipnotizador.

 

Por quê? Não sei.

 

Na UNIC, já como diretor da Faculdade de Medicina, nosso professor de Fisiologia voltou da China encantado com a acupuntura.

 

Contou maravilhas sobre essa ciência milenar.

 

Eu, que sentia dores nos joelhos, resolvi procurá-lo no consultório.

 

Iniciei o tratamento com as agulhinhas em ambiente escurecido e silencioso.

 

Durante anos, flui paciente de uma médica anestesista de ascendência oriental. Uma vez por semana, lá estava eu.

 

Não me curei das artroses nos joelhos.

 

Mas ganhei assunto para escrever esta crônica.

 

Gabriel Novis Neves

21-02-2025




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