sábado, 8 de fevereiro de 2025

EXPERIÊNCIA


Antes de dormir, costumo refletir sobre o dia que passou e planejar o que escreverei no seguinte.

 

Lembrei-me, então, de um episódio ocorrido em uma aula prática de neurologia na Santa Casa da Misericórdia, no Rio de Janeiro.

 

Eu era aluno do quinto ano de Medicina. Já havia prestado concursos e trabalhava em pronto-atendimentos como o Pronto-Socorro, o SAMDU e hospitais universitários.

 

Naquela aula, o professor apresentou um caso clínico bastante comum nos Prontos-Socorros.

 

Após a explicação, começou a apontar para os alunos, pedindo hipóteses diagnósticas.

 

Quatro ou cinco colegas não souberam responder. O último, um tanto desconcertado, comentou que apenas um médico experiente seria capaz de dar o diagnóstico correto.

 

O professor, com humor e satisfação, aproveitou a deixa e propôs um debate: o que é ser experiente?

 

As respostas começaram a surgir. Até que um colega disse:

 

— Uma pessoa experiente é alguém como o senhor, que há 40 anos estuda e ensina neurologia.

 

O professor ouviu e ponderou:

 

— Mas você, com certeza, já atendeu casos semelhantes no Pronto-Socorro e deve ter se saído bem. Afinal, essas patologias frequentes constam nos compêndios que você estudou para os concursos nos quais foi aprovado.

 

Houve então um silêncio na sala. Ninguém sabia explicar claramente o que é uma pessoa experiente.

 

O professor pediu atenção e deu a sua definição:

 

— Experiência é como farol de automóvel virado para trás: só ilumina o passado.

 

Não sei dizer se a frase era dele ou se a citou de outra fonte. Mas ela ficou gravada em minha memória.

 

O caso clínico apresentado era de um paciente com acidente vascular cerebral, o popular AVC.

 

Essa frase sobre experiência teve um impacto profundo em mim. Tornou-se um guia para as decisões que tomei ao longo da vida, tanto como médico quanto como cidadão.

 

Pensei nela quando aceitei desafios para os quais não tinha experiência direta:

 

   • Diretor de um hospital psiquiátrico;

 

   • Secretário de Educação do Estado;

 

   • Primeiro reitor da Universidade Federal de Mato Grosso;

 

   • Primeiro diretor da Faculdade de Medicina de uma universidade particular (UNIC);

 

   • Primeiro presidente da Academia de Medicina de Mato Grosso;

 

   • Primeiro médico cuiabano a integrar a Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES).

 

Em todas essas funções, enfrentei situações inéditas, mas sempre com uma vontade imensa de acertar.

 

Fui bem avaliado em todas elas, mesmo sem ser um “experiente”. Por isso, hoje, tenho certo cuidado com quem se apresenta como tal.

 

Gabriel Novis Neves

14-01-2025




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