quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A SEMANA ACABOU


Quando fecho o computador na quinta-feira ao entardecer, tomo banho e faço a barba, a semana para mim chegou ao fim.

 

Sexta é dia de faxina, sábado de casa cheia para almoço em família e o domingo silencioso, tendo a solidão por companhia.

 

Houve um tempo em que eu aguardava silenciosamente o fim da semana.

 

Apaixonado por futebol, contava os dedos para acompanhar os campeonatos nacionais e internacionais. 

 

Assistia também pela TV os célebres programas humorísticos; e as revistas musicais faziam parte do ritual.

 

Hoje escrevo. E quando me canso, recorro à música de todos os tempos pelos aplicativos do celular.

 

Sempre fui tomado por certa nostalgia nos finais de semana e de ano.

 

Esses momentos despertam em mim um forte sentimento de perda — porque, de fato, é uma perda.

 

O que passou, passou, e não volta mais. E eu nunca aprendi a lidar com as perdas, nem mesmo com as do tempo.

 

A tristeza me lança de volta ao passado. Um passado que, ainda que alegre, traz consigo uma sombra melancólica. Parece paradoxal, mas não é.

 

Caminho por essa trilha estreita entre a alegria e a tristeza — um caminho que um dia, talvez, eu compreenda.

 

Mesmo numa vida longa, quantos mistérios enfrentamos sem jamais encontrar quem nos ajude a decifrá-los?

 

Gostaria de viver de forma simples, seguindo os calendários herdados dos nossos antepassados, sem pressa, sem sobressaltos.

 

Mas não seria uma vida monótona. Sempre há surpresas.

 

Uma visita inesperada, o telefonema aguardado, a chuva espalhafatosa alterando o ritmo da cidade e bloqueando ruas e cruzamentos.

 

O choro da criança assustada com os trovões.

 

E, depois, a beleza do arco-íris, anunciando que o temporal se afastou.

 

Continuo teclando e imaginando o fim da semana.

 

O fisioterapeuta se despede: ‘Até a aula de segunda-feira’.

 

Torço para que, nesse intervalo, nada de novo aconteça no meu laptop.

 

Que meu provedor pelo menos, não mexa na configuração do meu e-mail.

 

Acho que o almoço será feijoada — feita com as sobras dos almoços da semana.

 

Mas, o sábado, dia consagrado à feijoada, terá um cardápio de perfil árabe — ‘doação’ da avó do meu neto postiço.

 

E a semana acabou.

 

Mesmo.

 

Gabriel Novis Neves

13-02-2025


               ILUSTRAÇÕES DE PEDRO VINICIO

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