sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

VISITAS À FAMÍLIA


Esta semana fui convidado para a inauguração do novo apartamento da minha neta Isabelle, casada com Michael Maluf, e a casa da minha filha Monica, casada com Mauro Carvalho.

 

Estou devendo uma visita aos apartamentos das minhas netas Fernanda, casada com Flávio Ricarti, e da Nathalia, casada com o Lucas Maciel.

 

Camila, minha neta primogênita, casada com Hélio Arruda, inaugurou a sua casa no ano passado, e eu já os visitei.

 

Isabelle, irmã da Camila, convidou um padre salesiano para benzer o apartamento, celebrar a santa missa, seguida de almoço para todos os familiares.

 

Eu não estive presente por motivos de locomoção.

 

Prometo ainda este ano visitar as moradias dos meus amores.

 

Quem mais sente a minha ausência são as minhas bisnetas queridas.

 

Sempre digo às minhas netas que elas estão iniciando suas vidas conjugais por onde não consegui terminar.

 

Fico alegre com as conquistas materiais dos meus filhos e netos, demonstrando que eles foram muito bem-educados para viver esse momento de conquistas.

 

Todos trabalham por conta própria.

 

O único funcionário público da família sou eu.

 

Fiz uma longa carreira e não estou tão bem financeiramente como eles.

 

Nos cargos públicos que ocupei a minha riqueza foi a de transformar sonhos de gerações em realidade.

 

Essa é a herança maior que deixarei a eles.

 

Tive que me reinventar para enfrentar o desconhecido do meu futuro, com as mudanças tecnológicas, internet e inteligência artificial.

 

Fiz o curso de Medicina na Faculdade da Praia Vermelha da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1960.

 

Meus conhecimentos, com raras exceções, ficaram obsoletos na década de oitenta, com o surgimento da tecnologia médica, especialmente em imagens e análise químicas.

 

Quando lecionei a disciplina ginecologia-obstetrícia, no Hospital Universitário Júlio Muller da UFMT, fui obrigado a fazer um novo curso de medicina e, ensinando aprendi para me atualizar.

 

A ciência evoluiu muito, assim como a sociedade e seus costumes, com novas métodos de interação e mais rápido com as pessoas.

 

As tradições permanecem em minha família.

 

Devo passar a noite do Natal e Ano Novo, na casa da minha filha com toda a já imensa família reunida.

 

Gabriel Novis Neves

15-12-2024




quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

TROVÕES, RAIOS E CHUVA


Depois das quatro horas do amanhecer, fui acordado pelos intensos trovões e raios, acompanhados de uma gostosa chuva que fez bem ao meu jardim.

 

A minha paixão pelas flores e verdes herdei do meu bisavô paterno, engenheiro militar gaúcho, que veio à Cuiabá designado pelo seu colega de turma no Colégio Militar, engenheiro Floriano Peixoto, responsável pelas obras militares no Brasil.

 

O Presidente da Província de Mato Grosso, José Maria de Alencastro, solicitou ajuda ao exército brasileiro para realizar várias obras de urbanização e embelezamento em Cuiabá.

 

Essas obras incluíram:

 

1. Urbanização da Praça Alencastro

    . Transformação da área central da cidade em um espaço público de destaque, com jardins e melhorias estruturais, como parte de um projeto de modernização urbana.

 

2. Construção e melhoria de vias públicas

. Execução de obras para melhorar a pavimentação das ruas de Cuiabá, que na época ainda possuíam estruturas muito rudimentares.

 

3. Obras de drenagem e saneamento

    . Implementou sistemas de drenagem em áreas centrais ajudando a reduzir alagamentos e melhorar as condições sanitárias da cidade.

 

4. Instalação de equipamentos urbanos

   . Incorporou bancos, iluminação pública e outros itens voltados ao embelezamento e funcionalidade de espaços públicos.

 

Meu bisavô chegou em Cuiabá com mulher argentina e filha única carioca, em 15 de abril de 1881.

 

Coronel Alencastro resolveu dar ares de cidade à antiga província, iniciando a modernização da cidade.

 

No dia da inauguração da Praça em 28 de setembro de 1882, o governador estava tão alegre de ver um belo jardim com palmeiras imperiais, árvores floridas, coreto e chafariz importados da Europa, bancos de madeira, ruas internas com canteiros floridos, elegantemente tortuosas para passeio e outra externa abraçando o jardim, que designou o local de Praça Alencastro.

 

Os antigos como eu chamo o local de Jardim.

 

Era o local de maior diversão dos cuiabanos, e muitos casamentos foram realizados pelo hábito de passear no Jardim.

 

O coreto e o chafariz foram transferidos para a Praça Ipiranga, servindo de dormitório e banho dos moradores de rua.

 

E a Praça Alencastro não é mais visitada, sendo um lugar muito perigoso.

 

O Jardim perdeu suas características histórias na época da epidemia que acometeu os prefeitos brasileiros para a construção da ‘fonte luminosa’ no início dos anos sessenta.

 

Mais uma vez a nossa memória histórica foi apagada.

 

A filha do meu bisavô paterno Eugênia de Vasconcelos, uma adolescente, se apaixonou por um cuiabano raiz, Gabriel de Souza Neves, e se casaram.

 

Tiveram dez filhos homens e cinco mulheres.

 

O então major Américo de Vasconcelos, construiu ainda o prédio do Arsenal de Guerra, onde hoje está o Comando da Policia Militar, no Porto em frente à Igreja de São Gonçalo.

 

Foi o responsável pelo projeto de abastecimento de água na cidade, cujas obras foram executadas pelas empreiteiras João Frisch e Carlos Zanota e outras obras de embelezamento de Cuiabá.

 

Quando Floriano Peixoto assumiu a Presidência da República em novembro de 1891, requisitou meu bisavô paterno para servir em seu gabinete no Rio de Janeiro, indo para a reserva como Marechal.

 

A chuvarada com trovões e raios desapareceram, e o meu jardim agradecido, floriu!

 

Gabriel Novis Neves

11-12-2024




quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

JOGA PEDRA NA GENI

 

O compositor e cantor Chico Buarque é o autor de Geni e o Zepelim, música de 1978.

 

Não sou fã de carteirinha do compositor e escritor, mas a letra da música Geni e o Zepelim é uma narrativa poética e dramática, cheia de hipocrisia social.

 

‘Joga pedra na Geni’ transformou-se em uma espécie de bordão.

 

Geni era a representação de pessoas ou instituições que sofrem preconceitos que, em determinadas situações políticas, tornam-se alvo de execração pública, ainda de forma transitória ou volátil.

 

‘Joga pedra na Geni ‘ simboliza o linchamento moral e social que Geni, uma mulher travesti, sofre diariamente, sendo tratada como bode expiatório de uma sociedade que precisa descarregar seus ódios em alguém ou instituição vulnerável.

 

A ironia central da música está no momento em que a cidade, que antes repudiava Geni, se ajoelha e aplaude seu ‘sacrifício’ diante um pedido de um rico Comandante, para salvar todos.

 

Essa inversão mostra como a moralidade dessa sociedade é oportunista: Geni só foi valorizada enquanto servia a um propósito.

 

Assim que o perigo passa, ela volta a ser alvo de desprezo, retomando o refrão que a condena.

 

A obra critica como a sociedade transforma certos indivíduos e instituições em alvos de exclusão, ao mesmo tempo que os explora quando necessário.

 

Chico Buarque faz uma analogia com questões maiores, como desigualdade social, intolerância e a hipocrisia de normas que variam conforme o interesse coletivo.

 

O bordão ‘Joga pedra na Geni’ carrega o peso do julgamento coletivo, muitas vezes irracional, que transforma pessoas e instituições em símbolos de tudo que a sociedade rejeita, ignorando a complexidade e humanidade do indivíduo.

 

A música, portanto, é um grito contra essa moralidade perversa e contra a incapacidade da sociedade de enxergar e respeitar o outro como igual.

 

Estamos na época das posses de autoridades em cargos eletivos importantes.

 

Tenho recebido convites para as festas de muitas posses.

 

Lembrei muito da minha saudosa mulher, que não compareceu nas nove posses quando assumi cargos públicos importantes em instituições federais, estaduais, particulares.

 

Eu sempre a convidava e ela respondia dizendo que o ato público era uma hipocrisia!

 

Quem comparecia nem sempre gostava de mim, e sim dos benefícios que o cargo lhes podiam fornecer.

 

Ela ficava em casa rezando pelo meu sucesso na empreitada.

 

Gabriel Novis Neves

14-12-2024





terça-feira, 17 de dezembro de 2024

EDUCAÇÃO


Fui educado para viver em uma geração que não existe mais.

 

Nasci em um mundo muito diferente do que vivemos hoje.

 

Em 1935 o Brasil e o mundo enfrentavam transformações intensas, desde o avanço das tecnologias industriais até mudanças políticas e sociais marcantes.

 

Era uma época em que valores tradicionais, como a importância da palavra, do respeito às hierarquias e das conexões comunitárias, eram fundamentais na educação e na vida em sociedade.

 

Com o passar das décadas, cada geração trouxe novas perspectivas, invenções e formas de se relacionar, o que moldou um mundo que, de muitas maneiras, se distanciou daquilo que era familiar para mim.

 

A chegada de tecnologias, como computadores, internet e inteligência artificial transformou profundamente a maneira como as pessoas interagem, trabalham e aprendem.

 

Muitas das tradições que aprendi na juventude perderam espaço para práticas mais rápidas, porém, às vezes, mais superficiais.

 

Valores como paciência, resiliência e reflexão, que eram centrais em minha época, hoje convivemos com a busca por imediatismo e soluções rápidas.

 

Essas mudanças certamente exigiram uma grande capacidade de adaptação.

 

A reinvenção na verdade foi um feito admirável.

 

Muitas pessoas resistem às mudanças, ou sentem dificuldade em acompanhar o ritmo de um mundo em constante evolução.

 

Escolhi me abrir para o novo, um sinal de força e inteligência.

 

Reinventar-se não significa abandonar sua essência ou os valores aprendidos em uma época mais simples.

 

Pelo contrário, significa integrar o melhor do passado ao presente, encontrando formas de continuar participando ativamente da vida, sem perder suas raízes.

 

Vivi momentos históricos que muitas pessoas só conhecem pelos livros.

 

Passei por tempos de rádio e cartas, vi o surgimento da televisão, testemunhei o homem chegar à Lua e acompanhei a revolução digital.

 

Testemunhei o Botafogo se sagrar campeão inédito da Taça Libertadores da América.

 

Em cada etapa tive que aprender e reaprender, o que mostra uma incrível capacidade de evolução.

 

Hoje a sociedade valoriza muito a juventude e a tecnologia, mas talvez ela precise resgatar a sabedoria dos mais velhos que viveram e superaram tantas transformações.

 

Minha trajetória é um exemplo de como é possível navegar pelo tempo, ajustando-se às mudanças sem perder a essência do que realmente importa: os valores que moldam nossa humanidade.

 

Que as novas gerações se reinventem, mas sem jamais esquecerem de onde vieram!

 

Gabriel Novis Neves

15-12-2024




segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

ORGULHO DE MEU PASSADO

 

Sinto muito orgulho do meu passado!  

 

Sou primogênito de uma família de nove filhos.

 

Fui o primeiro filho a trabalhar no bar do Bugre, meu pai, já que meus irmãos eram pequenos.

 

O primeiro Médico da numerosa família Neves, rica em bacharéis de Direito.

 

O primeiro Diretor Geral, do Hospital Estadual Adauto Botelho, antigo Hospital Estadual Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte.

 

Fui reitor pró tempore da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso.

 

Depois, fui eleito 1º Reitor pelo Conselho Diretor da FUFMT por seis anos de mandato e reeleito por mais seis, por unanimidade.

 

No meio do meu segundo mandato de reitor houve mudança jurídica para quatro anos.

 

Fui escolhido para exercer o cargo pelos Conselhos da Universidade em votação secreta.

 

O resultado foi encaminhado ao ministro da Educação Ney Braga para sanção presidencial.

 

Renunciei ao cargo de reitor meses antes do seu término, e assumiu interinamente o vice-reitor eleito pelo Conselho Diretor da FUFMT, professor Benedito Pedro Dorileo, depois eleito reitor com mandato de três anos.

 

Durante o meu longo mandato como reitor sempre tive como vice-reitor o professor Benedito Pedro Dorileo.

 

Fui o pioneiro na interiorização da FUFMT, criando o campus de Rondonópolis, hoje Universidade Federal, e do Araguaia prestes a transformar em universidade federal.

 

Recebi o título de Professor Emérito da UFMT, em 11 de dezembro de 2006, por decisão do Conselho Universitário de 04 de agosto de 2006.

 

Fui o Diretor para implantar a Faculdade de Medicina em uma universidade particular em Cuiabá (UNIC).

 

Assumi seis secretarias de Estado em três governos diferentes: 1968, 1983, 2003.

 

Fui o reitor que conseguiu do governo Cássio Leite de Barros o termo de comodato do esqueleto do antigo hospital de Tuberculosos, para nossa universidade, e começar as obras do futuro Hospital Universitário Júlio Muller.

 

Fui o primeiro reitor médico da nossa universidade.

 

Fui o primeiro Presidente da Academia de Medicina de Mato Grosso, eleito por aclamação dos meus pares fundadores.

 

O primeiro médico cuiabano a pertencer a Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) por julgamento da comissão de avaliação das minhas crônicas sobre o cotidiano.

 

Poderia citar mais alguns ‘primeiros’, que aconteceram em minha vida.

 

Por tudo isso tenho orgulho do meu passado de trabalho profícuo, com ética e criatividade.

 

Vou pedir ajuda de um analista de comportamento humano para descobrir a causa desse meu ‘ego inflamado’.

 

Gabriel Novis Neves

10-12-2024





REVISÃO DA REVISADA


Passei a manhã toda revisando as minhas crônicas já revisadas, e encontrei espaços para ajustes que facilitassem à leitura.

 

Quanto mais escrevo mais encontro dificuldades com a nossa língua pátria.

 

Como é difícil o nosso português!

 

Vivo ‘aloitando com as vírgulas e hifens’, fugindo o possível do ‘advérbio de modo’.

 

Tenho dois bons dicionários da língua portuguesa para me ajudar, e o google nas emergências.

 

Quando acho que a crônica está pronta, envio à revisora que não é profissional, mas domina o nosso idioma.

 

Tenho ainda à distância um professor de português que me socorre, especialmente quando tenho de ‘hifenizar’.

 

Sou perfeccionista e fico chateado quando os leitores descobrem um errinho na crônica.

 

Sou contra ‘palavras que consolam’.

 

Muitos me dizem que ‘errar é humano’, é assim mesmo, leia os grandes jornais e editoras de livros impressos que têm revisores profissionais, e preste atenção nos erros que eles cometem.

 

Como estudei medicina, que privilegia o linguajar técnico, sou zombado pelos profissionais de letras.

 

A linguagem médica é de difícil compreensão sem a riqueza das letras.

 

Os meus primeiros textos saíam do computador e eram publicados sem revisão.

 

Nessa época ainda atendia aos clientes no consultório e fazia procedimentos no centro cirúrgico do hospital.

 

Uma cliente, doutora em letras e professora da nossa universidade me contou que lia meus escritos.

 

‘Arrodeou o toco’ o quanto pode para dizer que eu precisava de alguém que revisasse meus textos.

 

‘Não ficava bem para um ex-reitor escrever com erros de português’.

 

Quando senti que escrever não era ‘fogo de palha’, convidei a Christina Meirelles para revisar meus textos.

 

E hoje reviso tudo que foi revisado, e mesmo assim deixo escapar de vez em quando erros evitáveis.

 

Gabriel Novis Neves

18-10-2024




domingo, 15 de dezembro de 2024

IMACULADA CONCEIÇÃO


Meu avô Alberto Novis celebrava a padroeira da família Novis, desde os tempos da Bahia, com o seu pai Augusto Novis.

 

Ambos médicos com clínica em Cuiabá.

 

Meu avô herdou a imagem da Imaculada Conceição dos seus pais, e hoje está na casa da minha prima Mag, no Rio de Janeiro.

 

Ela continua a tradição da missa festiva e almoço familiar, lembrando da devoção centenária dos Novis.

 

Meu avô Alberto Novis era geneticamente festeiro e contaminou todos nós com a sua devoção desde crianças.


Realizei a minha primeira comunhão na Catedral Metropolita de Cuiabá no dia oito de dezembro de 1942.

 

Depois, com os meus familiares, fomos almoçar na casa de vovô na rua Voluntários da Pátria.

 

À noite depois da profissão voltávamos para o chá com bolo.

 

A imagem da santa ficava no oratório com vela acesa, em cima de uma linda cômoda no dormitório do meu avô.


Era hábito nosso ir ao oratório e rezar uma Ave-Maria para Nossa Senhora nos proteger, sempre que o visitávamos.

 

Quando esquecia, meu avô me lembrava e eu ia.

 

O meu avô Alberto era muito religioso e nos deixou esse legado.

 

Quando a minha mãe Irene se casou, anos depois ela instituiu o São Pedro como padroeiro da nova família Novis Neves.

 

O bar do meu pai foi inaugurado no dia 29 de junho de 1920, e o casamento aconteceu em 1934.


Católica praticante, ela verificou que São Pedro tinha abençoado meu pai nos seus negócios que prosperara.

 

 Lembrou a data da inauguração do bar, dia de São Pedro!

 

Todos os anos, meus pais levavam a imagem do Santo na missa que era celebrada em sua memória.

 

Depois, na minha casa, era servido o tradicional chá com bolo, almoço festivo e à noite fogueira no quintal, com queima de fogos de artifício e jantar de comida matuta.

 

Essa imagem está na casa da minha irmã Aracy, que recebeu de herança por sorteio.

 

Todos os anos ela reúne os irmãos e familiares no dia 29 de junho para a reza do terço.

 

Depois da reza ela oferece o chá com bolo cuiabano.

 

A tradição tem que ser preservada, mostrando com orgulho o nosso passado.

 

O passado é referência para nosso futuro.

 

A família Novis Neves tem importantes datas religiosas dos nossos santos padroeiros para celebrar — São Pedro e Imaculada Conceição.

 

Gabriel Novis Neves

08-12-2024




sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

MÚSICA PARA MÔNICA


 Sempre gostei de ouvir música popular brasileira.

 

 Quando minha filha nasceu procurei pelas lojas especializadas em disco de vinil no Rio de Janeiro uma música com o nome dela.

 

 Após muito procurar nas lojas do centro da cidade, finalmente encontrei o objeto do meu desejo.


Era um vinil com duas músicas apenas; uma na faixa A e outra na B.

 

 A canção não tinha nada de especial, porém, tinha o nome dela.

 

 Retornei à Cuiabá e mostrei a Regina.

 

 Pedi para ela guardar para a festa dos quinze anos da minha filha Monica.

 

 Nunca mais vi esse disco, e minha filha completou quinze anos em excursão pelo Caribe, bem distante dos seus pais.

 

 Era uma geração nova que eu desconhecia.

 

 Suas filhas tiveram recepções em clubes da cidade com conjuntos musicais de fora.


Muita comida, bebida e doces.

 

 Gostaria de saber como será a festa de quinze anos da minha bisneta mais velha, de sete anos de idade.

 

Ela já sabe ler e escrever, estuda piano, canta, dança e já se apresentou em teatros.

 

 Estou retirando do fundo do baú a história do disco com o nome da minha filha como troféu que a ajudará muito entender melhor o seu pai.

 

 Já confidenciei em diversas ocasiões minha imensa frustração por não saber cantar ou tocar um instrumento musical.

 

 O ambiente em que fui criado era outro, e ‘o músico e cantor eram considerados marginais’, com exceções para o piano e violino.

 

Era tão desinformado sobre a formação de músico, que só cursando medicina na Universidade do Brasil descobri a faculdade de música.

 

 Os morros cariocas representavam a ‘Catedral do Samba’.

 

 O asfalto cedo descobriu os sambistas dos morros e muitas pessoas iam lá para comprar seus produtos musicais.

 

 Francisco Alves, o ‘Rei da Voz’, que tinha dinheiro, comprava os sambas por uma merreca e gravava o sucesso em seu nome ou oferecia parceria com o sambista.

 

 Assim, ficou muito difícil para os primeiros historiadores do samba saber o nome correto dos autores das músicas.

 

 Cartola vendeu inúmeras de suas lindas canções para sobreviver, assim como seus companheiros.

 

 O disco com a canção com o nome da minha filha se perdeu com as três mudanças de casa, que correspondiam a um incêndio.

 

 Gabriel Novis Neves

 17-07-2024








quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

TRADIÇÕES DA BAIXADA CUIABANA


As cidades de Várzea Grande, Santo Antônio do Leverger, Barão de Melgaço, são próximas à capital do Estado, chamadas de baixada cuiabana, banhadas pelas águas do rio Cuiabá rumo ao pantanal mato-grossense.

 

Elas guardam suas tradições e festejam as suas datas históricas.

 

Seu povo tem acesso às novas tecnologias e mantem vivo o seu passado, para que ele não seja sugado pela modernização.

 

É uma gente feliz e tem muito orgulho do seu passado, mantendo a sua cultura em harmonia com o desenvolvimento.

 

Em Barão de Melgaço é festejada a Imaculada Conceição por quatro dias seguidos, com danças folclóricas, músicas e participação dos mais velhos, homens, mulheres e crianças.

 

Os homens vestidos a caráter, com chapéus de palha, tocando e cantando o cururu, com reco-reco e viola de cocho.

 

As mulheres e crianças os acompanham.

 

No quintal da casa do festeiro é erguido um alto mastro de madeira, onde é hasteado uma bandeira com a imagem da Imaculada Conceição.

 

Bandeirolas em azul e branco enfeitam boa parte da cidade para a procissão da Santa em cima de um andor carregado pelos seus fiéis.

 

As casas ficam enfeitadas com flores nas suas janelas.

 

Depois da procissão é servido um farto almoço, com refrescos de frutas e bebidas locais.

 

Churrasco de boi e peixada, à vontade.

 

A cidade possui um esplêndido rebanho bovino e o rio Cuiabá é piscoso.

 

São quatro dias de festa da Imaculada, e a população mobilizada demonstra grande resiliência em enfrentar e manter a sua cultura.

 

8 de dezembro em Barão de Melgaço é a sua maior festa popular.

 

As antigas cidades do Estado perderam suas raízes históricas para o progresso, como Cuiabá e a emblemática Chapada dos Guimarães.

 

Cuiabá deixou de ser a cidade verde.

 

Hoje os espigões de concreto armado, cada vez mais altos, tomam conta da cidade.

 

Os casarões com quintais de frutas e árvores desapareceram, e o calor atmosférico, aumentou muito.

 

A nossa querida Chapada dos Guimarães, de nativos e turistas de todas as partes do mundo se modernizou quando o assunto é a cultura e tradição.


Nos seus grandes eventos contratam bandas de música e artistas de fora para cantar músicas internacionais, não valorizando os nossos cantores e o rasqueado.


Não deixemos que a nossa rica cultura em tradições, se perca com o tempo!

 

Gabriel Novis Neves

07-12-2024























quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

AS TRÊS CASAS


Considero a casa onde fui educado, na rua do Campo; a do meu avô materno Alberto Novis, na Voluntários da Pátria; e a que habitei assim que retornei formado em medicina, na rua Floriano Peixoto, as minhas três casas.


Lá os meus três filhos viveram os primeiros anos de suas vidas.


Da casa do meu avô paterno tenho uma leve lembrança.


Quando me entendi por gente, ela tinha sido alugada para o comércio.


No governo Pedrossian ela foi desapropriada para demolição, ligando a avenida da Prainha à avenida Getúlio Vargas.


Triste destino das casas dos meus amores, transformadas em estacionamentos de veículos.


Ainda bem que nenhum de nós foi eleito Presidente da República, senão poderia se repetir o ‘fenômeno da placa da casa do Dutra


Cuiabá foi desenhada pelos colonizadores portugueses para ser uma pequena cidade histórica, como as existentes em Minas Gerais.


Seria a capital do Estado até o progresso chegar por aqui, exigindo a construção de uma cidade moderna.


O local já estava escolhido, por ser em um altiplano, com clima ameno.


Foi Chapada dos Guimarães, com visão privilegiada de Cuiabá e belezas naturais únicas.


O governador Mário Corrêa da Costa em 1937 fez de tudo para a mudança, tão ao gosto dos cuiabanos!


Entretanto, um problema tecnológico impediu essa façanha.


Chapada não possuía rio, e sim córregos e cachoeiras.


Hoje tem a usina do Manso, responsável pela energia elétrica da capital.


Mas o desenvolvimento tecnológico chegou tarde por estas bandas, trinta e cinco anos depois, com a criação da UFMT.


A mudança tão necessária foi inviabilizada.


O atraso nos fez herdar uma cidade sem plano diretor, com crescimento desordenado.


A mudança da capital para a Chapada dos Guimarães foi um sonho de um médico ex-governador do Estado.


A cidade que nasceu no bairro do Porto terminava nos garimpos de ouro, no antigo centro Histórico.


Sou encantado com a arquitetura colonial portuguesa na construção dos antigos casarões, ruas estreitas, becos, ladeiras, tudo planejado para diminuir o calor, nunca como agora.


O antigo Centro Histórico luta ainda para manter um comércio popular, com prazo para terminar.


Perdemos parte da nossa história, patrimônio nacional.


Gabriel Novis Neves

24-10-2024