quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

PROFESSOR DE PORTUGUÊS

 

Contratei um professor de Língua Portuguesa para que eu venha a aprimorar meus textos. Uma das propostas é escrever textos curtos, que não firam a compreensão dos leitores.


Importa evitar ao máximo as palavras difíceis, para não transpirar um tom pernóstico. Pretensão é botar no papel um conteúdo que convide à leitura prazerosa.


Isso tudo atendendo ao que preceituam as boas normas. Foi o que pedi. Isso é o bastante. 


Lembro-me — e não faz muito tempo — de que os editoriais de nossos grandes jornais ocupavam página inteira. Era sucesso!


Naquela época, eu pegava um bonde no bairro do Catete e ia lendo o jornal até o hospital Getúlio Vargas, na Penha.


Chegando lá, presenteava o jornal aos meus pacientes da enfermaria. Uma festa!


Seria impossível repetir esse ato hoje. Mesmo porque o interesse pela informação escrita, aos moldes de então, já não apaixona ninguém.


Os estudantes de medicina já não leem jornais impressos, com notícias ‘amanhecidas’. Em tempo real, recorrem sempre ao WhatsApp. 


Boto atenção para que as crônicas possam ir ao encontro de um maior número de pessoas.


O escrever é um ‘dom’ que recebemos dos deuses. Dom que amadurece com o estudo e com a persistência.


De modo diverso ocorre com o poeta, que é um mágico das letras. A inspiração lhe vem da alma, parece-me.


Com um parágrafo, Manoel de Barros, Mário Quintana e Vinicius de Morais — só para citar alguns — desenhavam o belo, maravilhando aquele que deles se abeirava.


A consulta aos dicionários —que hoje sou obrigado a manusear — é de longe superior a todas que fiz na marcha dos meus dias.


Agasalho o desejo de ser um cronista que transporte um fiapo do belo, competente a amenizar, pouco que seja, as amarguras que o cotidiano envelopa. 


Vontade para tanto não me falta. A meu sentir, isso já é meio caminho andado.


Reconheço que, mesmo assim, de vez em vez envio algumas ‘tijoladas literárias’ ao meu mestre. De volta me brinda com suas preciosas lições.


A cada dia, envido esforços para ‘aperfeiçoar’ o sonho de ser bom cronista. Nesse intento, a ajuda de alguém competente, que valia!


Fica-me a convicção de que o professor não ensina o aluno a ‘ver’. Cabe a ele ‘abrir a janela’ para que este, por si mesmo, o faça.


Gabriel Novis Neves

19-2-2024



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