domingo, 25 de fevereiro de 2024

DÊ ASAS À FANTASIA


Sempre estou a me perguntar o motivo por que os idosos gostam tanto de contar histórias. E por que as crianças vibram, ao ouvi-las.


Não conheço criança que não ame uma sessão em que o forte é contar histórias!


As histórias atuais são algo mais complexo, exigindo conhecimento adquirido há bom tempo.


Hoje as crianças possuem o iPad. E, criancinhas ainda, conseguem manipular essa engenhoca tecnológica.


Passam boa parte do dia assistindo a histórias infantis de fácil compreensão. Fazem isso embora a comunicação seja por mímica. Verdade: nem leem as legendas, nem falam o inglês.


Todas possuem seu celular. É comum que eu atenda a chamados das bisnetas. Sim, querem conversar comigo.


A mais velha delas me disse que não tinha ainda instalado, em seu celular, o WhatsApp, pois não sabe ler e escrever corretamente.


Meu bisneto caçula pede que sua vó chame o biso por vídeo: louco pra papear.


Agora está ‘moleza’ contar histórias para as crianças!


As cuidadoras ligam a televisão nos programas coloridos de histórias infantis e se divertem com as crianças, chegando a gargalhar. Quando não, no iPad.


No meu tempo de criança, as cuidadoras eram chamadas de babás. Reuniam à noitinha, após o jantar, os pequerruchos nas calçadas dos casarões cuiabanos.


Contavam histórias de terror.


Quem da minha época não se lembra da história da ‘alma do outro mundo’? Também a do ‘lobisomem’, da ‘mula sem cabeça’ e do ‘morto que andava pela calçada do cemitério’? E de um mundão delas?


Os idosos adoram também contar histórias em lugares jamais pensados. Preferem fazê-lo em grandes auditórios, em solenidades especiais. Nessas ocasiões, o tempo não ‘corre’: eles têm que ser interrompidos.


O contar histórias infantis —como tudo que é antigo — praticamente caiu em desuso. Aliás, o cenário ideal, que era a calçada de nossas casas, desapareceu.


Será que as crianças atuais não precisam mais aprender a brincar com a ‘fantasia’?


Na esteira do que dizia Rubem Alves, deixe que as crianças voem nas asas da fantasia, como se fossem pipas.


Gabriel Novis Neves

26- 2-2024





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