Quanto me orgulho de ser um dos remanescentes da antiga Cuiabá! Guardo com carinho os momentos felizes que vivi naquele tempo.
Tudo era bonito — com tons de simplicidade, diga-se. Mas sinto bem fundo que aquilo que passou, não volta mais.
As brincadeiras das crianças e dos adultos, que doçura eram!
As crianças brincavam nas ruas e nos quintais dos casarões, que hoje, raro, existem por aqui.
Os adultos praticavam muito a pesca. Também a caça, como a de ‘espera’.
As moças passeavam no Jardim, às quintas e aos domingos, desfilando sua graça. As mulheres faziam visitas — costume da época — ou acompanhavam suas filhas aos passeios no Jardim.
A meninada inventava brinquedos, daqueles que não eram comprados nas lojas.
A pesca do pacu e da piraputanga era fácil e farta no rio Cuiabá. O mercado do Porto testemunhava.
As caçadas ocorriam em nossas matas, no entorno da cidade.
Ficava encantado com a ‘caçada da espera’.
O ‘esportista’ — sim, faziam-no por esporte — se paramentava todo. Levava matula e se distanciava do centro da cidade, com uma pequena lanterna, presa à frente do capacete.
Ao escurecer, subia ao tronco mais alto da árvore. Mas não ia só. Fazia-lhe companhia um pequeno livro de leituras. Enquanto ficava de prontidão, empanturrava-se do que lhe fazia carícias à alma.
A espingarda com cartuchos carregados, esta ia a tiracolo.
No bolso do uniforme, uma lanterna maior. Só a acendia quando percebia a ‘presa’ por perto.
O caçador não podia produzir o mínimo barulho, tendo todo o cuidado com sua respiração e tosse.
Assim que a presa saía do esconderijo para procurar alimentos, ao menor barulho ela fugia do local onde estava o caçador.
Bastava que este detectasse barulho nas folhas do chão, acendia a lanterna localizando o animal e lhe acertava um tiro fatal.
Se errasse, a presa fugia e, nesse dia, não haveria mais caçada. Babau!
Os animais possuem um instinto de preservação muito atinado.
Daí por que o controle emocional do caçador devia ser também aguçado.
É fantástica a história contada de caçadores, por se tratar de um jogo de ‘instintos auditivos’.
Bem diferente das ‘estórias’ dos pescadores — como estes ‘viajavam na maionese’, para usar expressão que muito corria —, mais relacionadas à quantidade e ao tamanho dos peixes. Faziam-se mestres no agigantar suas proezas.
Minha velha Cuiabá foi transformada em uma metrópole chata para morar.
Tudo parece ter ficado mais ‘distante’, até mesmo o tão saudável bate-papo gostoso entre as pessoas. Cada um preso no seu ‘quadrado’, e todos com as ruas esburacadas a complicar.
Gabriel Novis Neves
10-1-2024
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