domingo, 4 de fevereiro de 2024

DESCUIDO COM A CULTURA

 

Os homens de outros Estados que para cá vieram com o intento de nos colonizar, trouxeram, na bagagem, dentre outros costumes, o chimarrão, suas botas e as danças típicas.


Desconhecidos do velho Mato Grosso, tornaram-se bilionários do agronegócio. E pensar que eram chamados de roceiros!


Até aí, tudo bem. Desde que se atentassem com nossas tradições.


Muito fizeram para ajudar o desenvolvimento, criando rodovias para escoar os produtos agrícolas. Especialmente a soja, para matar a fome de povos do outro lado do mundo.


Nada contra o enriquecimento material, daqueles que, no campo, encontraram seu ganha-pão.


Sinto que poderiam ter sido mais assessorados para preservar nossa cultura. A título de exemplo, o Centro Histórico de Chapada, uma das cidades mais antigas do Estado.


Em Cuiabá, até uma Arena para os jogos da Copa do Mundo de 2014 foi construída às pressas. E não me perguntem o preço. Como sempre, altíssimo!


Quanto à nova e necessária estrada da Chapada, foi de todo esquecida.


Governos se passaram, e a estradinha de sessenta e poucos quilômetros só foi lembrada após a catástrofe.


A cidade vive do turismo. As festas natalinas, juninas, festival de inverno e carnavalescas traduzem seu ponto forte.


As pousadas, hotéis, bares, restaurantes e o comércio em geral experimentam um grande fluxo de caixa, em ocasiões que tais.


A arrecadação se agiganta, abarrotando os cofres da prefeitura.


Com o desmoronamento de um trecho da estrada, na altura do Portão do Inferno, o trânsito, até de veículos leves, se fez interrompido.


E a queridinha cidade cultural ficou quase que totalmente abandonada. O seu comércio, inclinado a fechar as portas.


Quem mora em Cuiabá — e tem casa de veraneio lá — reduziu em muito sua ida a Chapada, onde curtia seus aprazíveis fins de semana.


Jeito é ficar mesmo por aqui, curtindo o forte calorão que tanto nos caracteriza.


Depois do acontecido, tanto o governo estadual quanto a prefeitura correram atrás dos seus filhos políticos, raposas na obtenção de recursos em Brasília.


Esqueceram-se de que o governo federal não lança sua atenção para estados periféricos, dada a fraca representação no Congresso Nacional e no próprio governo federal.


E nossa Chapada, tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional por suas ricas belezas naturais, caminha para ser cidade-fantasma.


Pergunto: onde estão os órgãos defensores de nossa cultura, meio ambiente e universidades?


Emudeceram por quê?


Será que assim agem porque a riqueza da cultura é imaterial e, infelizmente, ela não tem o poder de eleger ninguém?


Talvez estejam esperando o império do caos para tomar medidas assertivas. Então, em se consumando a interrupção da rodovia Cuiabá-Chapada, só então se lastimarão, mãos dadas com o povo, ‘chorando o leite derramado’.


Lembro-me de meu pai: não brinque com fogo! De pronto completava: o castigo vem a galope. Fica a advertência.


Gabriel Novis Neves

17-1-2024


Portão do Inferno, ano 1959, fotografia por Sérgio Gugelmin, no Facebook 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.