Meu
avô saiu de Cuiabá para estudar medicina na Bahia na segunda metade do século
XIX.
Partiu
do Porto do rio Cuiabá em um pequeno vapor e, após uma semana, chegou à cidade
de Corumbá.
Lá
embarcou num pequeno navio nas generosas águas do rio Paraguai e foi até o Rio
da Prata.
Trocou
de embarcação e subiu - já em águas do Atlântico - rumo a Salvador.
Ele
vivenciou um emaranhado de surpresas e novidades nesses dois meses de viagem.
Angústia?
Muita. Necessidade de sucesso premente. Fracasso inaceitável.
Deixei
Cuiabá em 1953 para estudar medicina no Rio de Janeiro. Peguei um velho
avião DC-3, herança da Segunda Guerra Mundial.
Repetiu-se
em mim, como num filme, a mesma angústia que mobilizou meu avô na sua
decisão rumo ao novo.
Na
minha despedida de Cuiabá ele me deu uma verdadeira aula de distâncias.
Disse-me que eu viajaria para uma nova e importante etapa de vida, na qual só
seria aceitável vencer ou vencer.
Tomaria
café em Cuiabá e jantaria no Rio de Janeiro, com várias pousadas e decolagens.
Lembrou-me
que viagens aéreas só contavam com dois riscos, decolagem e aterrissagem.
Agora,
estou a dez minutos do aeroporto do Galeão.
Não
sei por que me vieram essas lembranças tão antigas, talvez Freud explique.
Olho
pela janelinha e observo a natureza que tanto nos esforçamos para destruir e
ela, teimosamente, resiste às nossas vis intenções.
A
beleza estonteante vista de cima contrasta com a pobreza e a violência que se
afigura das moradias de muitos de seus habitantes.
Nenhum
gênio da pintura seria capaz de reproduzir as inúmeras e variadas telas
de tamanha grandiosidade dos acidentes geográficos dessa monumental metrópole
cercada de matas, montanhas e mar.
As
nuvens brancas no azul celeste mais parecem bailarinas festejando a nossa
chegada.
Dia
agressivamente ensolarado prenunciava uma estada cheia de calor e surpresa.
O
piloto automático, qual maestro de uma grande orquestra dirige o jogar do
mais pesado que o ar em direção ao seu “grand finale”.
Tempo
do espetáculo: duas horas e vinte minutos com uma única decolagem!
Chegamos.
É a tecnologia!
Gabriel
Novis Neves
14 -09-2013
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