Se
viva estivesse estaria hoje (02/09/2013) completando o seu centenário de
nascimento.
Partiu
para a outra vida aos noventa e três anos de idade.
A
sua entrada no céu foi precedida de toda a formalidade das gerações passadas.
-
“Licença, meu Santo”!
E
São Pedro bonachão:
-
“Entra Irene. Você não precisa pedir licença”.
-
“Ah! De que São Pedro” - retrucou com a sua esmerada educação.
Mamãe
era católica praticante, devota de Nossa Senhora da Conceição.
Começou
a admirar São Pedro, provocando ciúmes em São Benedito, quando se casou com o
Bugre do Bar.
Acontece
que, em 1920, no dia 29 de junho, Olyntho Neves inaugurou o Bar Moderno.
Catorze
anos depois contraiu núpcias com a minha mãe, que tinha apenas sete anos de
idade quando do início das atividades comerciais do meu pai.
Sempre
antenada, logo associou o sucesso empresarial do seu marido a São Pedro, que
passou a festejar.
Mulher
de grande fertilidade. Teve nove filhos, todos nascidos em casa. Colocou nas
crianças nomes que homenageavam familiares, santos, e também, usando sua
criatividade.
Assim,
o seu terceiro filho recebeu o nome de Pedro, em homenagem ao santo padroeiro
do bar.
Definiu
mãe como uma criatura divina, mulher de todo trabalho, mulher enfermeira,
incansável criatura, a amiga ternura, a que faz economia, a mais importante
graça ao homem concedida.
Sua
poesia jorrava pelo quintal da nossa casa.
“A
filha que da mãe orgulha seguindo o belo exemplo, que sabe pegar na agulha,
fará do lar um rico templo”.
Mamãe
sempre foi o grande esteio da nossa família e, como poetisa, brincava com a
vida, com o amor e com os sonhos.
Era
uma criatura humana e simples, sempre bem humorada, transformando sacrifício em
prazer.
Órfã
aos quatro anos, assim se referia à sua mãe: “Foste tal um meteoro, a
clarear minha vida. Tua ausência choro. Numa saudade sentida”.
Educadora
genética, seus estudos convencionais foram concluídos nos quatro anos do antigo
ensino primário.
Orientava
os filhos nos deveres escolares de casa, ensinando-nos desde, o português e
matemática, até o latim, francês e inglês.
Era
uma autodidata completa. Sabia, entendia e se aventurava, com sucesso, em todos
os setores da vida: educacional, cultural, nutricional, artesanato e, acima de
tudo, era uma excelente administradora do lar.
Adorava
festas, principalmente o carnaval, quando saía no bloco das senhoras mascaradas
na segunda-feira gorda à tarde.
Cantava
ao entrar com o bloco no bar do meu pai: “Mulher casada que anda sozinha, é
andorinha é andorinha”, tudo para brincar com o meu pai que trabalhava os
quatro dias de Momo.
A
poesia a perseguia e brotava qual pedra preciosa das suas mãos.
“O
amor como a rosa perfuma e tem espinhos
Delicada,
cheirosa,
Maltrata
devagarzinho,
Ainda
és brotinho,
Não
mais linear com o amor,
Cuides
bem desse bichinho,
Como
se cuidasse da flor”.
Uma
invencível otimista que amava a vida e as suas coisas simples, assim era a
minha mãe.
Obrigado,
mamãe!
Gabriel
Novis Neves
02-09-2013
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