Para
as classes mais favorecidas economicamente férias é sinônimo de viajar.
Quanto
mais elevado o cartão de crédito, mais distante é o lugar escolhido para o
descanso, apesar de termos, muitas vezes, de enfrentar até vinte horas de
avião.
Acho
salutar um corte nas atividades diárias para momentos de lazer. No entanto,
sabemos que não há nada mais trabalhoso do que o planejamento das sonhadas
férias.
Fico
sem saber o que é mais gratificante: se a partida para o sonho de um descanso
inexistente ou o reencontro com a realidade no retorno.
Aeroportos
lotados e inadequados. Voos atrasados. Informações incorretas. Filas para
embarques, desembarques. Espera das bagagens e para compra do ticket do táxi.
No
hotel, fila para o check-in na recepção. Fila para o restaurante, teatro,
cinema.
É
tanta gente, que nos impede de conhecer gente.
No
final das férias o “fenômeno” se repete com o aparecimento do tédio da espera
da chegada em casa, para, finalmente, uns dias de férias...
Férias
rima com despojamento, relax, preguiça, esquecimento, desrespeito aos horários,
simplicidade, ócio, desejo de não fazer nada.
Por
que então complicamos tanto este período que nos é oferecido para nada fazer
que lembrasse trabalho e, muito menos, atividades compulsivas?
Ao
contrário, programamos trabalhos exaustivos como o abre e fecha das malas
cheias de bugigangas, noites curtas de sono, atividades esportivas exaustivas,
exposição excessiva ao sol, enfim, todas as tentativas de preenchimento do
nosso vazio interno, resultado de uma vida desperdiçada por um trabalho que,
muito frequentemente, não nos dá prazer.
O
pior é quando, para complicar, escolhemos países de clima antagônico ao nosso.
A
mão de obra aumenta, assim como a saudade da vida caseira que trocamos pelas
férias desastrosas.
Tudo
isso sem falar no sentimento de culpa que o lazer geralmente traz à grande
maioria das pessoas. Condicionadas desde sempre a funcionarem como mãos de obra
ativa sentem-se desconfortáveis logo após os primeiros dias com possibilidade
de ócio criativo.
Férias
são para feriar, e não, trabalhar de viajar.
Gabriel
Novis Neves
28-01-2015
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