O
grande pintor belga Rubens mal poderia imaginar em 1639, que uma de suas
maiores obras, “As Três Graças”, quatro séculos depois, viria a ser criticada
pela imperfeição das formas.
Os
três belos nus eram a representação das virtudes, como a Beleza, a Caridade e o
Amor.
Na
mitologia grega “as Três Graças” representavam as deusas da Beleza, da Sedução,
da Fertilidade, da Natureza e da Dança.
Nos
dias atuais - em que as pessoas não mais se permitem ser o que são - seus nus,
venerado pela antiguidade, são a visão
que aterroriza as mulheres, a da celulite.
Outros
pintores da época fizeram quadros semelhantes, sempre focados na emoção que
eles causavam pela simples contemplação.
Pessoas
absolutamente individualizadas exibiam,
despreocupadas, suas formas, quer nas alcovas, quer nos lugares
públicos, totalmente livres de qualquer patrulhamento.
Com
o aparecimento da sociedade de consumo, logo a estética foi vista como um
grande filão para altos lucros.
Práticas
paradoxais de comportamento foram rapidamente absorvidas pela sociedade e a
humanidade foi se transformando num grande objeto a ser consumido.
Primeiro
passo seria estabelecer padrões estéticos únicos, uniformizando a coletividade.
Surgiu
assim a proliferação intensa das academias, prometendo a todos, em todas as
idades, corpos esculturais, ainda que, em muitas vezes, em detrimento da
capacidade articular de cada um.
Lucros
astronômicos, levando consigo a indústria dos acessórios esportivos.
Simultaneamente,
aumento do número de programas televisivos de culinária, incentivando o gosto por alimentação requintada e a frequência a restaurantes grifados
dirigidos por grandes chefes.
Exacerba-se,
não mais a alimentação saudável, mas sim o requinte no comer e no beber.
Por
outro lado, a obesidade apresenta níveis crescentes em todo mundo,
principalmente nas classes menos abastadas que, por falta de tempo e dinheiro,
fazem uso mais frequente da chamada “fast food”.
Festas
são o que há de melhor para a constatação desse exército de pessoas - se
mulheres, com cabelos longos lisos, cílios postiços, seios siliconados e corpos
anoréxicos vestidos cada vez mais sumariamente.
A
singularidade não mais existe nesse cardápio.
Pelo
contrário, o ser diferente passa a ser estigmatizado.
Quem
não se submete ao mercado é descriminado e vítima de preconceitos. Isso
inclusive se reflete nas oportunidades de trabalho e nos meios sociais que
rejeitam os que não pertencem aos padrões pré-estabelecidos.
A
velhice tonou-se inaceitável, já que o mercado dirigido a essa faixa percebeu
que esse nicho só faz aumentar, tendo em vista os avanços tecnológicos.
A
ânsia de nos tornarmos clones de nós mesmos através de plásticas e tratamentos
dermatológicos inovadores, tem sido a parte melancólica dessa nova cultura que
vem transformando velhos, e outros nem tanto, em deformados pela obsessão da
juventude eterna.
O
fato é que a humanidade foi se anestesiando com o tempo no tocante a valores,
permanecendo apenas o que dela pode ser contabilizado em termos de lucro.
As
leis do capitalismo selvagem não vieram para brincar, e fabricar mentes
programadas é uma das metas a ser alcançada.
Técnicas
subliminares de propaganda lavam em pouco tempo mentes até razoavelmente
esclarecidas.
Esses
são os nossos tempos.
Gabriel
Novis Neves
22-02-2015
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