quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O ENCANTO DAS MANHÃS NA CIDADE


Quem acorda cedo tem o privilégio de se encantar, como hoje, com um belo arco-íris surgindo em meio a um leve chuvisco, distante, quase tímido, além da janela por onde o observo.

 

O arco-íris é uma das maravilhas mais fascinantes da natureza, porém pouco celebrado pelos poetas e trovadores. Talvez o seu silêncio – sereno e misterioso – não tenha despertado tanta curiosidade. Vivemos numa pressa que nos faz esquecer de olhar para o céu.

 

Os poetas exaltam frequentemente a beleza das manhãs na cidade: a sinfonia dos pássaros, os sons da civilização – motores de carros, ônibus, caminhões e motos, compondo uma orquestra urbana. Mas o arco-íris, com sua paleta esplendorosa, desafia até mesmo os grandes mestres da pintura clássica. Nem Leonardo da Vinci ousou imitá-lo. Mais recentemente a Inteligência Artificial tentou – e falhou.

 

Só Deus conseguiu essa proeza.

 

Pergunto-me, admirado: como a natureza escolhe essas cores que tanto me fascinam?

 

Esse fenômeno meteorológico, nascido do encontro entre sol e chuva, cria o arco-íris. Minha mãe costumava dizer que esse espetáculo, tão cedo descoberto pelas crianças do interior, tem o nome de “casamento da raposa”, por ser algo inusitado e quase mágico – tão estranho quanto imaginar uma raposa casando-se.

 

A raposa, símbolo de inteligência, astúcia e solução de problemas (às vezes também de certa esperteza malandra), parece emprestar um toque de enigma a esse evento.

 

Sol e chuva ao mesmo tempo, muitas vezes acompanhados de um arco-íris, evocam uma mistura de sentimentos e situações, como se a natureza expressasse em cores e contrastes as dualidades da vida.

 

Curiosamente, essa expressão popular existe em várias culturas, em idiomas tão distantes como o alemão, o japonês e o sul-africano. E eu me pergunto: como esse ditado popular tão obscuro tornou-se comum em povos geograficamente separados?

 

No Brasil, na minha infância, tínhamos ainda uma cantiga que recitávamos quando chovia em dias ensolarados:

 

Chuva e sol,

Casamento de espanhol.

Sol e chuva,

Casamento de viúva.

 

É curioso como a ideia de casamento permeia esses versos infantis, ligando o fenômeno a uma união improvável e cheia de mistério.

 

O arco-íris é, sem dúvida, um encanto das manhãs de sol e chuva. Ele não é apenas uma obra-prima da natureza, mas também um lembrete de que há beleza até nas transições – naquilo que não é totalmente claro nem completamente definido.

 

Agora que a chuva cessou, e o horizonte perdeu parte do seu brilho, resta a memória desse instante mágico. O arco-íris nos ensina a valorizar o efêmero: tudo o que é belo e raro exige atenção, pois sua passagem pode ser tão breve quanto um piscar de olhos.

 

Olhando para o céu, me despeço deste espetáculo, mas levo comigo a certeza de que, assim como na vida, as cores mais vibrantes sempre retornam, inesperadas, para enfeitar nossos dias.

 

Gabriel Novis Neves

21-01-2025




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