sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

BOTAFOGUENSE APAIXONADO


Um leitor querido me fez um pedido que não pude negar: escrever uma crônica como é ser Botafogo.

 

Comecei a gostar do clube da estrela em 1947 por causa de Heleno de Freitas, o lendário camisa 9.

 

Meu pai, que não era fã de futebol, comprava todos os dias o Jornal do Brasil, e foi ali que me encantei com o jogador.

 

Apesar de não termos rádio em casa, sonhava em ser craque como ele.

 

Naquela época estudava no Colégio Salesiano, onde o padre Raimundo Pombo organizava atividades esportivas.

 

Aos domingos jogávamos futebol no Oratório Festivo.

 

Depois das aulas meus colegas comentavam os jogos do Campeonato Carioca, e isso só alimentava minha paixão pelo esporte.

 

Jogávamos botão, e o time que escolhi para representar era, claro, o Botafogo.

 

Os ‘jogadores’ eram botões arrancados dos casacos do meu pai, e o goleiro uma caixa de fósforo cheia de terra.

 

O campo era o corredor da minha casa, marcado com giz, ou na casa dos amigos.

 

Perdi as contas de quantos campeonatos disputei.

 

Meu irmão Pedro torcia pelo Fluminense e o Inon era Flamengo.

 

Mesmo assim, em 1950, consegui convencer meu pai a trazer a radio-eletrola do bar para casa só para ouvir os jogos da Copa do Mundo no Maracanã.

 

Pelos narradores e comentarista da Rádio Nacional, vivi cada lance da seleção, mesmo desconfiando do time recheado de jogadores do Vasco.

 

Para minha frustração, no dia 16 de julho, a derrota para o Uruguai calou 200 mil torcedores.

 

Dois anos depois, em 1952, assisti ao meu primeiro jogo no Maracanã: Botafogo 6X0 Bangu, com direito a gol de Nilton Santos.

 

A partir daí minha ligação com o clube só aumentou.

 

Em março de 1953 mudei-me para o Rio de Janeiro, para estudar medicina.

 

No primeiro domingo fui ao campo do Botafogo em General Severiano assistir ao início do Campeonato Carioca.

 

Na arquibancada, todos comentavam sobre um tal de Garrincha, que estrearia pelos reservas.

 

O que vi foi mágico.

 

Ele jogou de forma tão impressionante que nunca mais voltou ao time de aspirantes.

 

Garrincha se tornaria um dos maiores jogadores da história.

 

Na Copa de 1954 ele não foi convocado.

 

Havia sido reprovado no teste psicológico do Dr. Carvalhal, e o Brasil perdeu a Copa da Suíça, e quem brilhou foi o húngaro coronel Puskas, que vi jogar no Maracanã com o Real Madri.

 

Em 1958, finalmente Garrincha foi convocado para a Copa da Suécia.

 

Nos dois primeiros jogos o titular foi o Joel, e o Brasil foi mal.

 

Os líderes dos jogadores exigiram do técnico Feola a entrada de dois atacantes para ganharem a Copa do Mundo: Garrincha (camisa7) e Pelé (10).

 

Na Copa do Chile de 1962 Garrinha brilhou como protagonista levando o Brasil à conquista do bicampeonato mundial mesmo sem Pelé, lesionado.

 

Garrincha foi o artilheiro da Copa, eleito o melhor jogador e transformou o reserva Amarildo no ‘Possesso’ genial.

 

Entre 1953 e 1964 vivi no Rio de Janeiro a fase áurea do Botafogo, uma fábrica de craques como Didi, Jairzinho e tantos outros.

 

Hoje, mesmo longe, continuo apaixonado pelo Botafogo, acompanhando o time de Cuiabá.

 

O ano passado foi especial: em poucos dias levantamos a Taça Libertadores e o Brasileirão!

 

As feridas da espera cicatrizaram, deixando apenas orgulho e amor pelo clube.

 

Assim é ser botafoguense: fiel, apaixonado e sofredor.

 

Gabriel Novis Neves

08-01-2024




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