Fui criado numa casa com muitas crianças, o que propiciava um barulho constante de festa com a presença delas.
O barulho começava ao acordar e só parava na hora de dormir.
Quando minha mãe percebia algum dos nove filhos caladinho, mandava logo comprar na farmácia um vidro de óleo de rícino.
Ela era filha de médico e se julgava preparada para receitar.
Enfrentava uma verdadeira batalha com as crianças para tomarem aquele remédio horroroso.
Logo depois a febrícula desaparecia — e a algazarra recomeçava, sinal de cura.
Em sessenta anos de atividade médica, nunca precisei receitar o tal óleo milagroso.
Nem sei se ainda existe, nas farmácias de hoje esse terrível medicamento da minha infância.
Hoje, tudo é virose — e uma infinidade de exames laboratoriais.
Não me lembro de ter feito exame de sangue, urina ou radiografia quando criança.
Acho que nem existiam por aqui essas conquistas da Medicina.
Antibióticos e vacinas, sei que não.
Minha bisnetinha, de pouco mais de um ano, ficou enjoadinha e com febre durante uma semana.
Nesse período, foi diariamente ao médico e fez exames de sangue urina e raios X dos pulmões, além de fisioterapia.
O diagnóstico? Uma virose que está batendo na cidade.
Por isso gosto de ouvir a algazarra dos meus bisnetos quando vêm me visitar.
O almoço com eles é sempre diferente dos almoços dos outros dias.
Criança com saúde faz mesmo barulho quando está em casa — principalmente na casa do biso.
É uma alegria contagiante cujo silêncio, depois, deixa saudades.
Os velhos casarões cuiabanos só ficavam em silêncio, quando todos saíam, restando apenas os serviçais nos fundos das casas, lavando roupas ou preparando quitutes.
As portas e janelas ficavam abertas, sem preocupar os moradores.
Reinava paz na cidade. Os amigos do alheio ainda não haviam chegado por aqui.
Naquela época, o silêncio da casa depois que todos saíam nunca significou abandono —nem perigo de assalto.
Gabriel Novis Neves
18-07-2025
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