sexta-feira, 4 de julho de 2025

O ANIVERSÁRIO QUE NÃO SERÁ FESTA


Chegar aos noventa anos, é para muitos, motivo de festa.

 

Para mim, é tempo de recolhimento. 

 

Tenho meus motivos.

 

O corpo já não me acompanha como antes, e longas celebrações me cansam.

 

A emoção me toma com facilidade.

 

Prefiro o silêncio da escrita ao burburinho das salas cheias.

 

Meus filhos, compreensivelmente, pensam diferente.

 

Querem homenagear, abraçar, reunir gerações ao meu redor.

 

Dizem que é um marco.

 

E é.

 

Mas não do tipo que se mede por balões ou discursos. 

 

Eles insistem com carinho, e eu recuso com delicadeza. 

 

Já vivi o bastante para saber que há um tempo para tudo.

 

Houve tempo para festas, para abraços longos, para almoços de muitas vozes.

 

Hoje é tempo de quietude. De memórias. De paz. 

 

Eles, então, criaram outro tipo de festa.

 

Uma celebração feita de palavras. Uma crônica em forma de homenagem. 

 

—“Se ele não quer uma festa com música, que seja com silêncio e letras” — disseram. 

 

Aceito.

 

Com gratidão.

 

Porque aprendi que amor também é saber recuar.

 

Que presença também se faz no respeito.

 

Que a verdadeira alegria mora nas entrelinhas do afeto. 

 

Assim, deixo aqui minha crônica — e a deles.

 

Uma conversa de gerações que se escuta no compasso da vida. 

 

Não haverá festa com bolo, nem lista de convidados.

 

Mas haverá esse texto.

 

E para mim, isso basta. 

 

Gabriel Novis Neves

03-07-2025




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