Nunca imaginei que pudesse sofrer tanto com a expectativa da chegada dos meus noventa anos.
Foram meses de ansiedade para alcançar esse desejo íntimo: completar noventa anos de vida.
Temia que um imprevisto pudesse impedir esse sonho tão aguardado.
Após o seis de julho, tudo se acalmou, e a minha tranquilidade voltou.
Acredito que essa nova idade era, no fundo, uma vaidade que eu carregava comigo.
Não queria me perder no caminho.
Alcançado o meu desejo, tudo voltou ao normal. Quase esqueci que ainda tenho muitos anos pela frente — e, quem sabe, até alcance o meu centenário.
Penso na festa que meus filhos, netos e bisnetos certamente prepararão para mim.
Terei uma bisneta na faculdade, com toda certeza estudando Medicina — inaugurando a quarta geração de médicos Novis Neves.
Pretendo escrever muitas crônicas sobre essa nova etapa.
Até lá, continuarei cuidando da minha saúde e farei de tudo para preservar a lucidez.
Dez anos na juventude são muito diferentes de dez anos na velhice.
Até hoje minha genética não me traiu — e dificilmente me maltratará agora.
Tenho muito a escrever. Os assuntos não se esgotam.
Gostaria de escrever um livro sobre cada filho, neto e bisneto, e presenteá-los.
A memória, com o tempo, deixa escapar muitas coisas — e isso é natural.
Mesmo com memória privilegiada, confesso que já perdi muitas lembranças ao longo dos anos — mas nenhuma essencial.
Jamais esquecerei a alegria dos meus pequerruchos subindo a escada para brincar no jardim da cobertura do meu apartamento.
Descobriram que além das flores, há jabuticabas doces.
Queria entender qual o encanto que a cobertura do meu apartamento desperta neles.
Choram quando são chamados a descer, mesmo que suas casas tenham mais atrativos que a minha.
Gostaria de compreender essa paixão dos pequeninos.
Na minha infância o que me encantava era tomar banho de chuva e nadar no córrego da Prainha.
Gabriel Novis Neves
15-07-2025
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