A vida é feita de tempos. Já acumulei muitos, e sei que cada um carrega suas próprias marcas e características.
Já passei pelo tempo de ser avô — o tempo com abraços.
Não abracei tanto os meus filhos. Era o tempo do trabalho intenso, das ausências necessárias.
Com os bisnetos, a distância de gerações cria outra barreira: o tempo do corpo já cansado, do colo que já não sustenta tanto.
Ser avô é uma novidade na vida da gente. Um estado de encantamento que nos empurra naturalmente para o carinho, o afago, o abraço apertado.
É grande a vontade de envolver aquela criaturazinha frágil num abraço gostoso. E o avô tem tempo — e ternura — para isso.
Passear abraçado pela quadra onde moramos era mais que uma caminhada: era uma necessidade emocional.
Olhar aqueles olhinhos semicerrados, meio espantados com o mundo é uma virtude sem igual.
Ver um neto crescer é também desejar, em segredo, adivinhar o seu futuro — com um abraço de fé e esperança.
Quantos abraços dei nos meus netos tentando, quem sabe, antecipar o amanhã.
Hoje sei que tudo deu certo, e que os tempos mudaram.
Transformei-me em bisavô, e os abraços tornaram-se mais raros, mas não menos sentidos.
O amor, este não mudou. Permanece.
Esse exercício de refletir sobre o tempo, tendo o abraço como fio condutor, derrama emoção sobre as palavras que me escapam pelos dedos.
Tenho tantos tempos. E em todos eles sempre busquei a felicidade.
Avô — essa palavra evoca um passado cheio de marcas, muito além dos abraços.
Traz alegrias, tristezas, dores e vitórias de um tempo que não volta.
Avô lembra raízes, tronco firme da árvore genealógica — tão esquecida nos dias corridos de hoje.
Parece até que ninguém mais se interessa por essas origens, enfraquecendo o sentido dos abraços.
Mas o avô sente: precisa ser lembrado pelo seu clã, para que o tempo dos abraços não se perca.
Se o avô é o tempo dos abraços, o bisavô é o tempo que não deveria passar.
Gabriel Novis Neves
13-07-2025
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