Nada me faz lembrar tanto a infância sem perigos quanto a imagem de uma bicicleta encostada a um poste.
Ela, que já foi símbolo de liberdade e de deslocamento simples, repousa hoje esquecida em meio à pressa da cidade moderna.
Bons tempos aqueles em que podíamos deixar a bicicleta na rua, assistir às aulas e voltar para encontrá-la no mesmo lugar.
Vivíamos em um verdadeiro paraíso, sem sequer perceber.
Hoje moro em um edifício de apartamentos, onde assaltantes rondam a entrada da garagem para espalhar o medo entre os moradores.
A polícia informa que parte dessa quadrilha foi presa esta madrugada.
Mesmo morando no vigésimo andar, não temos a liberdade daquela bicicleta encostada no poste.
Perdemos, na modernidade, a tranquilidade que ficou abandonada nas esquinas da cidade.
Os furtos ingênuos do século passado — como colher uma fruta do quintal da minha casa — foram substituídos pelas quadrilhas sofisticadas da internet.
Esses bandidos de hoje invadem nossas contas bancárias por aplicativos e fazem a festa.
Tudo é eletrônico: fechaduras residenciais, automóveis, senhas de bancos.
E, ainda assim, nada parece suficiente para conter os larápios.
Resta-nos a esperança de que a Inteligência Artificial possa ajudar quem a procura.
Mas, como já profetizava Chico Anísio, a roubalheira se tornou institucionalizada neste país.
Nossos cientistas precisariam inventar um antídoto contra o roubo.
Só assim poderíamos voltar a sonhar com aquela bicicleta da infância, encostada — e não acorrentada —a um poste.
Toda criança da minha geração teve uma infância feliz, em cidades tranquilas onde todos eram iguais.
Crescemos, mas hoje muitos não sabem mais viver na cidade em que nasceram.
E isso, para mim, é uma tragédia!
Termino este texto mais triste do que quando comecei a escrevê-lo.
Quero sonhar — e não ter pesadelos.
Gabriel Novis Neves
21-09-2025
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