Quando nasci, já não havia bondes em Cuiabá, mas ainda conheci seus trilhos —parte deles na rua de Cima e nas proximidades da Casa Orlando, na rua de Baixo.
Eram bondes puxados por animais, retirados de
circulação em 1918.
Funcionaram entre 1891 e 1918, ligando o centro à região do Porto.
No Rio de Janeiro, porém, o bonde foi o meu transporte favorito.
Elétricos, espalhavam-se por todos os bairros, com passagens baratas.
Havia sempre o condutor e o cobrador, ambos uniformizados e com quepe.
O elo entre eles era o sino do bonde, cuja chamada alegre ainda guardo na memória, anunciando partidas e chegadas, conduzindo histórias pela cidade.
Os bondes cariocas traziam um número e o endereço do destino.
O mais charmoso para mim era o nº4 —Praia Vermelha — que tinha com ponto final a Faculdade Nacional de Medicina.
Certa vez a Light, concessionária do serviço, elevou o preço da passagem de cinquenta para setenta centavos.
Os estudantes do Rio reagiram com uma greve geral contra a ‘política imperialista da empresa americana’.
A paralisação só terminou quando o Presidente Juscelino Kubitscheck recebeu os líderes estudantis no Palácio do Catete.
Durante os seis anos em que cursei Medicina, o valor da passagem do bonde e a refeição no restaurante universitário permaneceram inalterados.
Em compensação, perdemos um semestre inteiro de aulas por causa da greve contra o aumento da tarifa, em 1955.
Havia outras linhas igualmente charmosas, como as que subiam para Santa Teresa, seguiam para o Corcovado ou para o Pão de Açúcar — inspiração para poetas e músicos.
Como os bondes viviam apinhados de passageiros, aprendi a viajar nos estribos e até saltar antes da parada final.
Tenho saudade dos pontos do Largo da Carioca, Machado e Posto 20, destinos tradicionais dos bondes da zona sul.
Quantas histórias esses bondes carregaram! Lembro das meninas suburbanas, que vinham com suas mães para as noites dançantes do Diretório Acadêmico de Medicina, aos sábados, iluminando a juventude de sonhos.
Gabriel Novis Neves
19-09-2025
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