Todas as cidades têm os seus sons.
Da minha guardo na memória os barulhos da madrugada.
Era o tilintar das ferraduras e o ranger das rodas de madeira das carroças.
Esses sons, presentes até hoje nos meus sonhos, acordavam e embalavam a cidade ainda adormecida.
Cuiabá era uma cidade rural na minha infância — dependia do trabalho do homem do campo para sobreviver.
Nos arrabaldes, especialmente do lado do Porto, existiam chácaras que forneciam leite à cidade.
Esse serviço era feito de madrugada pelos peões.
Latões de cobre, com vinte litros cada, traziam o leite que abastecia parte da população.
Eram transportados em carroças pelas ruas de pedras e paralelepipédicos, produzindo o tilintar das ferraduras dos animais e o ranger das rodas de madeira.
Lembro-me bem da carroça que vinha da chácara do seu Mário Esteves, trazendo vinte litros de leite para a sorveteria do bar.
O leite era fervido no fogão de lenha da minha casa da Rua de Baixo, e, depois transportado para a sorveteria.
Minha mãe acordava cedo e com o auxílio do meu pai e de uma funcionária, carregava o latão de leite até a cozinha, onde era colocado em vasilhames para ferver.
Em seguida voltavam a adormecer.
As carroças tinham um barulho peculiar, assim como os carrinhos de madeira com rodas de madeira.
Estes abasteciam a cidade com verduras e legumes vindos do cinturão verde do Porto, às margens do rio Cuiabá.
O cuiabano nunca foi muito apreciador de verduras, e o carrinho de verdura carregava também rapadura, farinha fina, pote, colher de pau para a cozinha, carne seca e quase sempre uma folha de alface.
Guardo com saudade esses sons que me despertavam de madrugada.
Como gostaria de poder ouvi-los novamente!
O tempo passou!
Gabriel Novis Neves
14-09-2025
Rua do Meio - Eng° Ricardo Franco |
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