terça-feira, 16 de setembro de 2025

SONS DA CIDADE


Todas as cidades têm os seus sons.

 

Da minha guardo na memória os barulhos da madrugada.

 

Era o tilintar das ferraduras e o ranger das rodas de madeira das carroças.

 

Esses sons, presentes até hoje nos meus sonhos, acordavam e embalavam a cidade ainda adormecida.

 

Cuiabá era uma cidade rural na minha infância — dependia do trabalho do homem do campo para sobreviver.

 

Nos arrabaldes, especialmente do lado do Porto, existiam chácaras que forneciam leite à cidade.

 

Esse serviço era feito de madrugada pelos peões.

 

Latões de cobre, com vinte litros cada, traziam o leite que abastecia parte da população.

 

Eram transportados em carroças pelas ruas de pedras e paralelepipédicos, produzindo o tilintar das ferraduras dos animais e o ranger das rodas de madeira.

 

Lembro-me bem da carroça que vinha da chácara do seu Mário Esteves, trazendo vinte litros de leite para a sorveteria do bar.

 

O leite era fervido no fogão de lenha da minha casa da Rua de Baixo, e, depois transportado para a sorveteria.

 

Minha mãe acordava cedo e com o auxílio do meu pai e de uma funcionária, carregava o latão de leite até a cozinha, onde era colocado em vasilhames para ferver.

 

Em seguida voltavam a adormecer.

 

As carroças tinham um barulho peculiar, assim como os carrinhos de madeira com rodas de madeira.

 

Estes abasteciam a cidade com verduras e legumes vindos do cinturão verde do Porto, às margens do rio Cuiabá.

 

O cuiabano nunca foi muito apreciador de verduras, e o carrinho de verdura carregava também rapadura, farinha fina, pote, colher de pau para a cozinha, carne seca e quase sempre uma folha de alface.

 

Guardo com saudade esses sons que me despertavam de madrugada.

 

Como gostaria de poder ouvi-los novamente!

 

O tempo passou!

 

Gabriel Novis Neves

14-09-2025


Rua do Meio - Eng° Ricardo Franco 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.