sexta-feira, 6 de setembro de 2024

PERDI O MEU PASSADO


Com o avançar dos anos ganhamos uma preciosidade, que é o nosso passado.


Felizes daqueles que perceberam a tempo de guardá-lo.


Por falta de orientação, ou ignorância mesmo, coloquei a perder uma fase linda da minha vida, que foi a de estudante no Rio de Janeiro.


Durante a minha longa permanência na Cidade Maravilhosa, todas as semanas recebia uma carta da minha mãe Irene e respondia na mesma semana.


Eram verdadeiras relíquias que não soube preservá-las, e hoje muito me arrependo.


O mesmo aconteceu com as que remeti para a minha mãe, que não jogava nada fora.


Com as duas mudanças que ela fez depois de viúva, acredito no desaparecimento das minhas cartas escritas para ela.


Na época eram difíceis as fotos, mas as cartas frequentes.


Fazia sucesso na ocasião um samba cantado por Isaurinha Garcia: ‘Quando o carteiro chegou, e o meu nome gritou, com uma carta na mão’.


Essa sensação prazerosa tinha todas as semanas na pensão ao receber as cartas da minha mãe.


Ela escrevia bem, sempre dando boas notícias e, a melhor de todas, que eu teria uma nova irmã.


Éramos oito e agora seremos ‘noves neves’, brincava ela.


A melhor notícia que dei a ela foi a minha aprovação no vestibular de medicina da Praia Vermelha, e anos depois que eu iria me casar com uma argentina carioca!


Como gostaria de ter essas cartas comigo!


Ficaria mais enriquecido como pessoa e escritor.


Quantas lições esquecidas poderia aproveitar na educação dos meus netos e bisnetos.


Como era gostoso receber cartas da minha mãe, hoje substituídas pelo whtsap!


Sei que os tempos são outros, mas infelizmente a Internet retirou as emoções de um bilhetinho escrito à mão.


Não poucas vezes a leitura terminava com os meus olhos cheios de lágrimas.


Sou do signo das emoções e não sei viver sem elas, com essa estranha sensação que perdi o meu passado.


Gabriel Novis Neves

02-09-2024




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