quarta-feira, 11 de setembro de 2024

PENSAR DÓI

 

O escritor Ruy Castro publicou recentemente um artigo instigante dizendo que ‘pensar dói’.


Relata que pesquisadores universitários holandeses chegaram à essa conclusão após analisar cerca de 358 tarefas cognitivas.


A análise foi feita com o auxílio de um programa especial da Nasa, o que dá mais autoridade do que a de pesquisadores limitados a só usar o cérebro.


Certas atividades cerebrais, como fazer cálculos matemáticos, ou tomar decisões que envolvam um sim ou não de vida ou morte, provocam sensações orgânicas que podem ser classificadas como dolorosas.


Segundo o estudo, quanto maior o esforço mental, maior o desconforto físico.


Não é preciso pensar muito para se chegar a esse óbvio.


O estudo não considera a hipótese de todo o esforço mental ser relativo.


Ele pelo menos admitiu certa possibilidade de diferença entre as pessoas, citando estudantes universitários e militares — imagino que cada um numa ponta do espectro cognitivo.


Continuando, Ruy Castro diz que o que o espanta é a conclusão que ‘pensar dói’ tenha vindo de uma instituição da Holanda, país admirado por produzir pensadores em tantos ramos.


Eram holandeses os dois pilares da filosofia (Erasmo e Spinoza) atividade cuja única ferramenta é o pensamento.


E não há registro que Erasmo e Spinoza sofressem de lombalgia ou dor de dentes por pensar.


Holandeses foram pintores, como Van Gogh, Rembrandt, e pintar envolve decidir em um segundo se se dá esta ou aquela pincelada.


E alguns dos jogadores mais cerebrais da história do futebol eram holandeses — Cruyff, Van Basten.


Vieram provar que nem sempre o cérebro precisa estar na cabeça.


Os holandeses inventaram também a fita cassete, o CD e o DVD, e temos de lhes ser gratos por isso.


Mas depois os desinventaram —e pensar nisso, sim, dói.


Gabriel Novis Neves

08-09-2024




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