sábado, 24 de dezembro de 2011

Superstições


Quem não as tem? O filósofo inglês Francis Bacon dizia que: “evitar superstição é outra superstição”.
Eu tenho uma superstição muito comum entre os leitores de jornais.
Após o café dou uma olhadela nas manchetes dos jornais - hoje um trabalho rápido pela repetição dos fatos.
Chego a prestar atenção na data do jornal para ter certeza que estou lendo o jornal do dia.
A corrupção e a violência ocupam todos os espaços. E enfrentamos essa realidade com muita naturalidade.
Sempre foi assim, dizem os mais antigos, traduzindo a total impossibilidade de uma mudança social.
Luto e sofro com esse fatalismo dos nossos dias. Sempre foi assim, posso até concordar, mas cruzar os braços diante dos desmandos, é desesperador.
Voltando à minha superstição: procuro sempre - em local de pouca visibilidade no jornal - a coluna mais lida: horóscopo.
Interessante que, logo após a leitura do meu horóscopo, esqueço-me totalmente de como será o meu dia e das recomendações dadas.
Por outro lado, não consigo esquecer os pacientes sem medicamentos e hospitais para internação, inexistentes para os pobres.
A violência em todas as suas formas, dominando este país - que deu certo para poucos – é outra coisa que também não me sai da cabeça.
Dia destes, como sempre, li o meu horóscopo e fui trabalhar. Aconteceram-me tantas coisas desagradáveis - que em outras épocas me aborreceriam - que vou em busca do jornal para reler o meu horóscopo.
Pura falta de atenção e credibilidade a minha. Se tivesse prestado atenção no que estava escrito, não sairia de casa e estaria protegido dos dissabores denunciados pelo meu horóscopo:
“Dia de dificuldades. No trabalho esteja atento à influência de estranhos. Debilitado por atos impensados, razão de desencontros.”
Perfeito. Tudo aconteceu por minha displicência. Cheguei do consultório com a frente do meu carro danificada pelas enormes tartarugas que encontrei bem no meio do meu caminho. Não foi barbeiragem, apenas estava seguindo o comando do responsável pela área de estacionamento.
À noite sou alertado pela minha cuidadora que já era tarde e que tinha passado da hora em que costumo ir dormir. Aí verifiquei que o meu relógio de pulso estava parado. Tão entretido estava no computador que nem percebi que as horas não andavam.
Tive problema também com a minha máquina fotográfica. Ela começou a tremer, e o técnico me disse que precisava trocar um bloco do aparelho.
Com esses problemas materiais, interessei-me em saber os detalhes das outras recomendações.
“Dia de tendência à mudança súbita de humor e ânimo. Intimidade debilitada por atos impensáveis.”
Encerro lembrando a lição aprendida na frase de Raymond Smullyan:  “Superstição dá azar”.

Gabriel Novis Neves
27-11-2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.