quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Incompreensível

Existe na Presidência da República uma Comissão de Ética para aconselhar o presidente em casos de infrações éticas graves, principalmente dos senhores ministros.

Pela proximidade com esses auxiliares, ditos de primeiro escalão, qualquer respingo de lama atinge as vestes da autoridade do presidente.

O último presidente que não suportou respingos de lama na sua casa deu um tiro no coração. Ele era inocente, mas nos porões do Palácio do Catete, “amigos” do presidente Vargas insuflaram o cão de guarda, e amigo de verdade do gaúcho, para que tomasse providências sobre Carlos Lacerda.

O jornalista dizia ser o Brasil um imenso mar de lama, cuja nascente estava no palácio do Presidente.

De lá para cá mudou, e muito, o comportamento dos nossos presidentes. Grande parte suportou muito bem o convívio com o caudaloso mar da lama e seus afluentes.

Tivemos de 1954 até os dias atuais, situações incompreensíveis para aqueles que acompanharam o mar de lama.

Tivemos um que, imerso no tal mar do Lacerda foi recuperado pelo 'Cara' do Obama. Outro, da caspa, que enjoou de assistir filmes intermináveis e nos deixou como legado um patrimônio de leis inúteis – como a da proibição do biquíni nas praias e a da briga de galo.

O escritor de bigodes pintados e inventor dos fiscais do Sarney, recordista brasileiro em inflação. O topete do carnaval na Sapucaí com a modelo sem as vestes íntimas.

O presidente do radinho no Maracanã, sendo aplaudido por mais de cem mil torcedores, técnico da seleção brasileira de futebol do tri.

O alemão da divisão. Outro que gostava de cheiro de cavalo e de fazer racha de madrugada de moto em Brasília.

O professor doutor, vítima de erro laboratorial de DNA. O operário aluno do general Golbery, e que nunca trabalhou. E tantos que até me esqueci.

Dessa turma deixei como destaque o pé de valsa das Gerais e o discreto cuiabano que não tomava nenhuma decisão sem consultar o livrinho (Constituição Brasileira).

Naquela época não existia a Comissão de Ética da Presidência da República. Essa comissão foi criada, segundo a imprensa, pelo FHC no final do seu segundo mandato, para ajudar o Lula a administrar.

Durante todo esse período não aconteceu nada que fosse digno de uma reflexão da comissão. E olha que o período foi muito rico! Recordando: propinoduto mineiro, mensalão, sanguessugas, dólares na cueca, caixa dois, fortunas feitas do dia para a noite, e por aí vai.

A Comissão de Ética, neste governo, resolveu trabalhar. Em menos de um ano de governo, seis ministros solicitaram espontaneamente demissão em caráter irrevogável, acusados de ferir a ética administrativa.

Diante dessa avalanche semanal de denúncias graves, a comissão de alto nível começou a investigar os ministros denunciados pela imprensa, sem tempo de conversar com a presidente.

A reação da presidente, ao saber que a Comissão de Ética tinha decidido que ela deveria demitir o seu ministro do Trabalho, foi explosiva.

Nas palavras de Noblat: “O tempo fechou. A presidente esbravejou por não ter sido avisada que a comissão iria se reunir para tratar do caso Lupi. Esbravejou por ter a comissão lhe sugerido a demissão do ministro. Ficou sabendo da decisão pela imprensa, daquilo que todo mundo sabia. Sentiu-se atingida em sua autoridade e empurrada contra a parede”.

O ex-jornaleiro não conseguiu explicar as acusações feitas pela imprensa. Foi a primeira vez, em doze anos, que a Comissão de Ética da Presidência da República apontou a porta da rua para um ministro.

Este é o perfil da presidente: autoritária. Acha que gritar, dar murros na mesa e fazer ameaças, será o suficiente para ser obedecida pelos seus subordinados imediatos.

Incompreensível é esta Comissão não ter se pronunciado nem uma única vez nos últimos oito anos. E, no entanto, todos nós sabemos que foram anos ricos em crimes contra o patrimônio público.

Mas, parece que, agora, a Comissão começou a trabalhar, mesmo com freio curto.

Incompreensível!

Gabriel Novis Neves

06-12-2011

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