domingo, 4 de dezembro de 2011

Mundo cão

É uma expressão muito popular entre nós. É usada quando tomamos conhecimento de certas aberrações do comportamento humano ou quando nos defrontamos com situações que fogem ao que se convencionou chamar de “normal”.

Quem nunca teve o seu dia de mundo cão?

Diante de um fato real – inesperado - que passei por esses dias, sem querer, num ato de defesa, joguei para fora, em alto e bom tom, o famoso mundo cão.

O fato ocorreu em uma tarde calorenta. Um violento vendaval atacou minha casa.

Vento sem chuva, a mais de oitenta quilômetros por hora, veio derrubando tudo que encontrava pela frente e levantando uma densa nuvem de poeira no bairro escolhido para o show da natureza.

Foram apenas alguns minutos de vendaval. Mas, tempo suficiente para que nós, humanos, sentíssemos a nossa inferioridade frente à natureza.

Os danos causados por essa demonstração de poder, felizmente, foram somente de bens materiais, mas muitos deles eram de estimação.

Quem mais sofreu com esse dia de cão foram as plantas do meu jardim, que tombaram diante de tamanha violência. Mas, com os cuidados tomados, estão fora de risco de vida.

As outras vítimas estavam em cima da mesinha da sala de parto - local onde nascem os meus textículos - chamados de crônicas, artigos ou drogas. Não houve ainda um consenso sobre o que divulgo com a cumplicidade de inúmeros profissionais consagrados da mídia cuiabana.

As vítimas a que me refiro são as várias fotos de família, anotações, frases soltas – mas que iriam tornar-se futuros textos - e boletos bancários pra pagar.

A ventania chegou de forma tão inesperada, e com tamanha violência, que me pegou desprevenido. Quando corri para a minha sala de parto para fechar a janela, o estrago já estava feito – bem ali na minha frente. Todos os meus papeis rodopiavam pelo ar, em direção à janela aberta, tal qual um bailado louco e incontrolável e ao som daquele “rugir” do vento.

Fiquei uns segundos olhando aquela maravilha. Sim, era triste ver os meus papeis de estimação ao sabor do vento, mas, sem dúvida, presenciei um espetáculo sem igual.

Corri para fechar a janela. Consegui, apesar de certo esforço. Mas, era tarde demais. Através da janela fechada, fiquei observando as minhas relíquias sendo conduzidas pelas correntes de ar, sem rumo e sem destino certo para pousar em algum lugar da minha cidade.

Torci para que aqueles pedacinhos do meu coração encontrassem um ninho na copa de alguma mangueira verdejante - daquela arqueada de frutas, impedindo a passagem do sol para o seu descanso na terra sombria da sua proteção.

Não ficaria feliz se um dos segredos da minha sala de parto caísse no asfalto e fosse mastigado pelos pneus dos carros até a sua destruição total.

Seria hoje o meu dia de cão, ou a descoberta de que, mesmo produzindo desastre material e sentimental, vence sempre a força e a beleza da natureza?

Gabriel Novis Neves

28-11-2011

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