segunda-feira, 3 de novembro de 2025

SABÃO DE COCO


O cheiro do sabão de coco me leva de volta ao quintal da minha casa, onde a roupa branca secava ao sol. 

 

Era o perfume da limpeza verdadeira, da pureza que não se comprava em supermercado.

 

Na varanda dos fundos o sabão de coco reinava absoluto sobre as bacias e tanques de cimento.

 

Era ele quem espalhava aquele cheiro bom que invadia a casa depois das lavagens.

 

As mãos das lavadeiras ficavam brancas de espuma, e o aroma suave, misturado à água corrente, parecia anunciar pureza e paz.

 

Não havia perfume industrial capaz de competir com aquele cheiro simples vindo do sabão feito em casa, com paciência e carinho.

 

Cada pedaço, cortado em retângulos irregulares, era fruto do trabalho das mulheres que sabiam transformar gordura e soda em limpeza e lembrança.

 

Elas preparavam o sabão de coco com o mesmo cuidado de quem fazia um doce: derretiam a gordura, mexiam a mistura com a colher de pau e esperava o ponto certo antes de despejar nas formas forradas com jornal.

 

O segredo estava na proporção e no tempo de mexer.

 

Depois, os pedaços descansavam ao sol — firmes, cheirosos, prontos para enfrentar as manchas mais teimosas.

 

Era um ritual doméstico que unia a ciência do lar à sabedoria herdada das avós.

 

Servia para tudo: lavar roupar, louça, o chão da varanda e até as mãos depois da lida no quintal.

 

Havia nele uma honestidade rara — limpava sem prometer milagres.

 

O cheiro do sabão de coco me devolve à infância, quando as roupas brancas balançavam no varal e o vento espalhava o perfume da limpeza.

 

Hoje nas prateleiras dos supermercados, o sabão ainda existe, mas perdeu a alma.

 

Já não tem o toque das mãos, o cheiro da varanda nem a paciência do preparo.

 

Guardo comigo a lembrança daquele sabão artesanal, símbolo de um tempo em que tudo era feito com simplicidade — e com amor.

 

Era o perfume da casa limpa e do coração tranquilo.

 

Gabriel Novis Neves

17-10-2025






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