O cheiro do sabão de coco me leva de volta ao quintal da minha casa, onde a roupa branca secava ao sol.
Era o perfume da limpeza verdadeira, da pureza que não se comprava em supermercado.
Na varanda dos fundos o sabão de coco reinava absoluto sobre as bacias e tanques de cimento.
Era ele quem espalhava aquele cheiro bom que invadia a casa depois das lavagens.
As mãos das lavadeiras ficavam brancas de espuma, e o aroma suave, misturado à água corrente, parecia anunciar pureza e paz.
Não havia perfume industrial capaz de competir com aquele cheiro simples vindo do sabão feito em casa, com paciência e carinho.
Cada pedaço, cortado em retângulos irregulares, era fruto do trabalho das mulheres que sabiam transformar gordura e soda em limpeza e lembrança.
Elas preparavam o sabão de coco com o mesmo cuidado de quem fazia um doce: derretiam a gordura, mexiam a mistura com a colher de pau e esperava o ponto certo antes de despejar nas formas forradas com jornal.
O segredo estava na proporção e no tempo de mexer.
Depois, os pedaços descansavam ao sol — firmes, cheirosos, prontos para enfrentar as manchas mais teimosas.
Era um ritual doméstico que unia a ciência do lar à sabedoria herdada das avós.
Servia para tudo: lavar roupar, louça, o chão da varanda e até as mãos depois da lida no quintal.
Havia nele uma honestidade rara — limpava sem prometer milagres.
O cheiro do sabão de coco me devolve à infância, quando as roupas brancas balançavam no varal e o vento espalhava o perfume da limpeza.
Hoje nas prateleiras dos supermercados, o sabão ainda existe, mas perdeu a alma.
Já não tem o toque das mãos, o cheiro da varanda nem a paciência do preparo.
Guardo comigo a lembrança daquele sabão artesanal, símbolo de um tempo em que tudo era feito com simplicidade — e com amor.
Era o perfume da casa limpa e do coração tranquilo.
Gabriel Novis Neves
17-10-2025
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