O canto do sabiá ainda ecoa nas memórias das manhãs cuiabanas.
Ele celebrava o renascimento diário da vida nos quintais, onde o canto das aves era o despertador natural da infância.
Hoje moro em apartamento, ao lado do Quartel do Exército, com sua imensa área verde para exercícios e pouso de helicópteros — e ainda acordo com canto das aves.
Como é linda a orquestra sinfônica formada por elas, que adotaram uma das poucas áreas verdes da outrora cidade dos quintais!
Com que alegria celebram o nascer do dia, compartilhando sua música com a vizinhança.
Cuiabá é carente de áreas verdes, palco natural para o canto dos pássaros que anunciam o novo dia.
Depois que têm certeza de que todos acordaram, um imenso silêncio paira no ar — sinal de que as aves foram trabalhar: buscar alimento, namorar, construir seus ninhos.
Logo, o barulho das ruas e dos automóveis encobre um ou outro canto resistente.
Do meu apartamento, recordo o som dos sabiás no quintal da casa em que cresci, bem próxima ao meu quarto de dormir.
Era a hora de acordar para a escola, sempre com alegria.
Relia a lição, vestia o uniforme e tomava o café preparado com carinho por minha mãe.
A cidade era toda arborizada e o trânsito, quase inexistente, dava lugar à paz das manhãs.
As pequenas aves pareciam nos acompanhar até a escola.
Não me esqueço de chegar à aula escoltado pelo som inconfundível de uma nuvem de sanhaços e sabiás.
Ainda hoje me vem à lembrança o canto dos sabiás bicando as goiabas maduras do quintal da casa na rua do Campo.
Não me recordo de casas sem quintais na minha querida Cuiabá.
Cresci em um ambiente tão saudável aos olhos e à audição — talvez esse seja o segredo da minha longevidade.
Ah, que saudade do canto do sabiá no quintal da minha casa!
Gabriel Novis Neves
03-11-2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.