Quando criança o tempo custava muito a passar.
Os dias pareciam muito longos, intermináveis, e as tardes não tinham fim.
No meu tempo as aulas eram dadas na parte da manhã.
À tarde fazíamos a tarefa em casa, ajudados pela minha mãe.
Um pouquinho depois que o sol escondia, íamos para a cama dormir.
No período das provas acordávamos alta madrugada para recordar as lições com a minha mãe.
Os antigos acreditavam ser o melhor horário para aprender.
A metodologia empregada era a ‘decoreba’, inclusive matemática.
Isso me fez um excelente aluno em Cuiabá, e ‘despreparado’ no Rio de Janeiro.
Impossível ‘decorar’ um livro de anatomia ou fisiologia.
Demorei a ‘aprender a entender’ o que lia.
Os dias eram curtíssimos, e os ‘veteranos’ me ensinaram a usar remédios para não dormir e ‘varar às noites’ estudando.
Conheci o terrível ‘Pervitim’, uma descoberta dos alemães na Segunda Guerra Mundial para tirar a estafa e sono da tropa.
A invenção logo se espalhou pela Europa e chegou ao Brasil.
Fui dependente desta droga, sempre aumentando a sua dosagem, durante os seis anos de curso de Medicina.
O remédio não era ‘controlado’ e sua venda farta.
No Catete, bairro que concentrava os alunos pobres do interior, o Pervitin era receitado e aconselhado pelos balconistas das farmácias.
Na Farmácia Jacy, na Praça José de Alencar, fui atendido pelo ainda não famoso cantor Anísio Silva.
No último ano do curso de Medicina, cheguei a tomar três comprimidos à noite e dormir tranquilamente.
Terminei o curso e deixei o vício, sem traumas em mim.
Foi apenas ‘um suporte acadêmico’ que a minha geração do interior, mal preparada no curso fundamental e médio, usou e abusou para conseguir as suas metas.
Anos depois abandonei o cigarro industrializado também por insegurança educacional e das tarefas enfrentadas.
Único vício que tenho é a de gostar muito de namorar, pois esse não acaba.
E os dias atuais voam.
Gabriel Novis Neves
20-06-2024
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