Domingo à tarde, no escritório do apartamento do vigésimo andar do prédio onde moro, só ouço o barulho do motor do aparelho de refrigeração.
Tudo mais é silêncio que ‘amedronta’.
Tenho medo do ‘silêncio e da escuridão’.
Esse ‘hábito familiar’ adquiri na infância.
Ele me obriga a dormir em um quarto com um ‘fio de claridade’, e pelo menos o ‘barulho suave de um motor de refrigeração’.
Sinto-me acompanhado com o ‘latido’ de cães vadios namorando pelas ruas.
A claridade do dia nascendo me enche de alegria.
Mesmo nos dias de frio, com temperaturas de quinze graus, ligo a refrigeração do dormitório.
Como hábito não é doença, essa ‘traquinagem’ infantil me acompanhará para o resto da vida.
A ‘forte claridade permanente’ e o ‘barulho excessivo’ de uma UTI me incomodam mais que o hábito familiar.
Não sou portador de neurose, que é uma doença adquirida e precisa de tratamento psiquiátrico.
O pavor ao silêncio e a escuridão traduzem um ‘hábito’ da cidadezinha em que nasci, com menos de cinquenta mil habitantes.
Ruas estreitas, becos, largos, córregos, compunham o cenário da minha cidadezinha.
Na minha infância a noite começava com o pôr do sol e o final da retreta na Praça Alencastro.
Restava o silêncio e a escuridão.
Como era triste acompanhar meu pai fechar portas e janelas do bar, após o término das retretas!
A Praça esvaziava rapidamente, sobrando o silêncio e a escuridão.
Até hoje sinto saudades das noites de domingo.
A chave da porta da rua da minha casa era controlada pela minha mãe.
Ninguém dormia sem beber um copo de leite gelado.
Esses hábitos levei para o Rio de Janeiro para cursar Medicina, quando permaneci por quase doze anos.
Gabriel Novis Neves
09-06-2024
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