domingo, 23 de junho de 2024

BARULHO E SILÊNCIO


Domingo à tarde, no escritório do apartamento do vigésimo andar do prédio onde moro, só ouço o barulho do motor do aparelho de refrigeração.


Tudo mais é silêncio que ‘amedronta’.


Tenho medo do ‘silêncio e da escuridão’.


Esse ‘hábito familiar’ adquiri na infância.


Ele me obriga a dormir em um quarto com um ‘fio de claridade’, e pelo menos o ‘barulho suave de um motor de refrigeração’.


Sinto-me acompanhado com o ‘latido’ de cães vadios namorando pelas ruas.


A claridade do dia nascendo me enche de alegria.


Mesmo nos dias de frio, com temperaturas de quinze graus, ligo a refrigeração do dormitório.


Como hábito não é doença, essa ‘traquinagem’ infantil me acompanhará para o resto da vida.


A ‘forte claridade permanente’ e o ‘barulho excessivo’ de uma UTI me incomodam mais que o hábito familiar.


Não sou portador de neurose, que é uma doença adquirida e precisa de tratamento psiquiátrico.


O pavor ao silêncio e a escuridão traduzem um ‘hábito’ da cidadezinha em que nasci, com menos de cinquenta mil habitantes.


Ruas estreitas, becos, largos, córregos, compunham o cenário da minha cidadezinha.


Na minha infância a noite começava com o pôr do sol e o final da retreta na Praça Alencastro.


Restava o silêncio e a escuridão.


Como era triste acompanhar meu pai fechar portas e janelas do bar, após o término das retretas!


A Praça esvaziava rapidamente, sobrando o silêncio e a escuridão.


Até hoje sinto saudades das noites de domingo.


A chave da porta da rua da minha casa era controlada pela minha mãe.


Ninguém dormia sem beber um copo de leite gelado.


Esses hábitos levei para o Rio de Janeiro para cursar Medicina, quando permaneci por quase doze anos.


Gabriel Novis Neves

09-06-2024









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