quarta-feira, 8 de maio de 2024

QUANDO ME SENTI JURÁSSICO


Numa roda de aniversário de uma neta me senti velho, desatualizado, mal informado — que atende pelo nome de jurássico.


Cometi a ‘imprudência’ de cruzar o Atlântico uma vez na vida, com passagem aérea e hospedagem por conta de uma empresa do leste europeu.


Não conheço a Disney ou Nova York, tampouco a cidade do cinema e seus cassinos.


Meu ídolo é o Ariano Suassuna, o brasileiro dos mais cultos e bem-humorados que conheci.


Suassuna não conheceu a Disney ou Europa e, com a inteligência que Deus lhe deu, aprontou boas com a grã-finagem carioca.


Assisti todas as suas ‘aulas-shows’, momentos de sabedoria e mais fino humor.


Na sua época ele era chamado de ‘jurássico’ por fazer roupas no alfaiate do tempo de estudante, inclusive o seu fardão de posse na Academia Brasileira de Letras, que tem um exclusivo.


Também tinha pavor em viajar de avião.


Fazia o trecho Recife-Salvador de automóvel em estrada de asfalto e chão batido.


No aniversário da minha neta eu não conseguia acompanhar o ritmo da conversa.


Destoava do grupo pelos meus parcos conhecimentos do mundo moderno.


 O meu bisneto de três anos já foi duas vezes à Disney e Europa.


Eles não entendiam o meu desinteresse em conhecer outros continentes.


Acham que ‘sempre existiu’ uma universidade no Coxipó, com cursos nobres nas três áreas do conhecimento — Direito, Medicina, Engenharia.


E como a cidadezinha de 305 anos se transformou em polo universitário e capital do agronegócio!


Desconhecem totalmente nossa história recente e sabem tudo da culinária estrangeira, ignorando o da cidade em que nasceram.


Meus bisnetos preferem almoçar comida japonesa com dois pauzinhos.


Não sabem o que é a nossa saborosa Maria Isabel.


Abandonaram o linguajar cuiabano, pelo chiado dos cariocas.


Num grupo assim, me senti desconfortável com a distância de gerações, quando ficar em casa é a melhor coisa do mundo!


Cacoete de jurássico!


Gabriel Novis Neves

24-04-2024




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