Numa roda de aniversário de uma neta me senti velho, desatualizado, mal informado — que atende pelo nome de jurássico.
Cometi a ‘imprudência’ de cruzar o Atlântico uma vez na vida, com passagem aérea e hospedagem por conta de uma empresa do leste europeu.
Não conheço a Disney ou Nova York, tampouco a cidade do cinema e seus cassinos.
Meu ídolo é o Ariano Suassuna, o brasileiro dos mais cultos e bem-humorados que conheci.
Suassuna não conheceu a Disney ou Europa e, com a inteligência que Deus lhe deu, aprontou boas com a grã-finagem carioca.
Assisti todas as suas ‘aulas-shows’, momentos de sabedoria e mais fino humor.
Na sua época ele era chamado de ‘jurássico’ por fazer roupas no alfaiate do tempo de estudante, inclusive o seu fardão de posse na Academia Brasileira de Letras, que tem um exclusivo.
Também tinha pavor em viajar de avião.
Fazia o trecho Recife-Salvador de automóvel em estrada de asfalto e chão batido.
No aniversário da minha neta eu não conseguia acompanhar o ritmo da conversa.
Destoava do grupo pelos meus parcos conhecimentos do mundo moderno.
O meu bisneto de três anos já foi duas vezes à Disney e Europa.
Eles não entendiam o meu desinteresse em conhecer outros continentes.
Acham que ‘sempre existiu’ uma universidade no Coxipó, com cursos nobres nas três áreas do conhecimento — Direito, Medicina, Engenharia.
E como a cidadezinha de 305 anos se transformou em polo universitário e capital do agronegócio!
Desconhecem totalmente nossa história recente e sabem tudo da culinária estrangeira, ignorando o da cidade em que nasceram.
Meus bisnetos preferem almoçar comida japonesa com dois pauzinhos.
Não sabem o que é a nossa saborosa Maria Isabel.
Abandonaram o linguajar cuiabano, pelo chiado dos cariocas.
Num grupo assim, me senti desconfortável com a distância de gerações, quando ficar em casa é a melhor coisa do mundo!
Cacoete de jurássico!
Gabriel Novis Neves
24-04-2024
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