Vinicius
de Moraes disse certa vez que muitas pessoas com o avançar dos anos, e com a
proximidade da morte, “começam a fechar as portas do seu passado”.
Talvez,
por pudor, os idosos não gostem de mostrar a sua decadência física ou
mental. No meu entender, é um ato de
pura proteção contra comentários de alguns jovens: “gozem a vida que ainda lhes
resta”.
Qualquer
idoso, sem a “Doença do Alemão”, percebe isso com facilidade, especialmente
quando está em lugares públicos.
Os
“brotos”, atualmente "galera", de um modo geral, detestam idosos,
principalmente sem uma boa identidade (cartão de crédito).
Essa
invenção capitalista tem o poder da transformação: transformam velhos gagás em
jovens simpáticos, com futuro brilhante pela frente, pois, afinal, a expectativa
de vida vem aumentando dia a dia.
Esse
cartão é tão maravilhoso, que é um símbolo de cultura, dado a sua possibilidade
de se exprimir em vários idiomas.
É
o companheiro ideal que um velho tem para, com conforto, e em ditas boas companhias, dar a volta ao mundo.
E,
com que satisfação, os garotos dizem que o cartão é milagroso e resolvem todos
os seus anseios.
No
caso do velho, ajuda, e muito. Não resolve, mas dá para enganar.
A
figura do idoso criada pela sociedade é de um poupador contumaz - muitas vezes
irrita seus herdeiros quando a gorda poupança demora a chegar às suas mãos.
O
velhinho não é bem visto gastando o seu dinheiro ganho com anos de trabalho.
É
interpretado como um dilapidador do patrimônio da família. O velho ideal é o
sofredor. A alegria maltrata os jovens, que reinvidicam esse sentimento de
prazer como sendo deles.
O
bom velhinho é o hipocondríaco, que não tem limites para pagar consultas
médicas, exames laboratoriais e uso indiscriminado de medicamentos, alguns
ainda em fase de experimentação.
Velho
namorar é visto como alguém irresponsável, já com o pé na cova.
Velho
alegre, só o desconhecido. É enquadrado como personagem folclórico. O aceitável
é o depressivo ou com uma doença incurável.
Ficar
em casa com reumatismo esperando a morte também compõe o perfil do velho ideal.
Ser
velho no Brasil, este país tropical, das praias, dos jovens e do carnaval, é
uma arte difícil de elaborar.
Gabriel
Novis Neves
13-01-2014
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