A emoção de abrir um caderno no início do ano escolar, sentir o cheiro do papel e imaginar as histórias que seriam escritas ali, é indescritível.
Eu os comprava na Livraria e Papelaria Pepe, quase em frente à igreja do Senhor dos Passos, ou então nas livrarias próximas ao Palácio da Instrução.
Enquanto a Pepe vivia em uma desorganização ímpar, as outras se destacavam pela ordem e organização.
A Pepe pertencia a duas irmãs solteiras, esportistas, praticantes do tênis em piso duro e torcedoras fanáticas do Mixo Esporte Clube.
Já as demais livrarias eram empresas familiares, onde todos os parentes trabalhavam.
Meu pai sempre me mandava comprar na Pepe, porque os preços eram melhores.
Hoje, o prédio encontra-se em ruinas, embora tombado pelo patrimônio histórico e artístico nacional.
As outras livrarias que frequentei foram transformadas em lojas comerciais.
O caderno novo possuía atrativos especiais: o cheiro do papel, que aos poucos se perdia com o uso, e a imaginação que despertava sobre as histórias que ali seriam registradas.
Tudo era emoção naqueles tempos de alfabetização.
Tínhamos o caderno de caligrafia, o caderno para o lápis e, já no segundo ano, o caderno para caneta tinteiro.
Havia ainda o caderno especial para desenho.
Naquela época não existiam as modernas canetas descartáveis.
O caderno novo, usado no grupo escolar e também para tarefas de casa, logo ficava manchado, sobretudo pela gordura da manteiga que vinha no pão, envolto em papel e guardado dentro da pasta junto ao livro.
Quantas histórias poderia contar a partir do caderno novo do início de cada ano escolar!
Hoje as crianças não experimentam a mesma emoção que eu sentia.
Elas vão para a escola ainda no maternal, para aprender a socializar.
Depois, no jardim, fazem exercícios de coordenação motora.
Quando chegam ao primeiro ano do ensino fundamental, já conhecem a professora, a sala de aula, o caderno novo, e até sabem escrever o próprio nome.
Eu, ao contrário, conheci a escola, a professora, a sala de aula, o caderno novo, pouco antes de completar sete anos, totalmente analfabeto.
Por isso, a emoção de abrir aquele primeiro caderno e sentir o cheiro do papel permanece viva em mim até hoje.
Gabriel Novis Neves
30-09-2025
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