Na cozinha da minha mãe o coador de pano era mais que um utensílio: era um símbolo de paciência.
O café passava devagar, perfumando a casa e anunciando que o dia estava começando.
Todas as casas cuiabanas tinham o seu coador de pano, que ocupava posição de destaque nas cozinhas.
Hoje perdeu espaço para os modernos filtros de papel, descartáveis após o uso.
Ainda assim, há quem mantenha o costume de usar o coador de pano — lavado logo depois e guardado dobrado na geladeira.
Confesso que não consigo distinguir, pelo sabor, quando o café é coado em pano ou papel.
Mas os entendidos garantem que o de pano tem gosto mais encorpado, mais verdadeiro.
Essa diferença lembra outra discussão antiga: o guaraná ralado na hora, direto do bastão ou o comprado pronto, em pó, nos vidros das prateleiras.
Ralar o bastão garante a autenticidade e a pureza da bebida, que, misturada à água e ao açúcar, dá energia e vitalidade.
Dizem que o melhor é tomá-lo logo ao acordar, de estomago vazio ou à tarde.
À noite, pode causar insônia — razão pela qual sempre foi o preferido dos estudantes em época de provas.
O cafezinho da manhã, em pequena xícara e com uma ou duas colherezinhas de açúcar, continua sendo paixão nacional.
Em qualquer esquina do Brasil há um lugar para saborear um café fresco, feito na hora.
O poeta da Vila, exigente, pedia sempre ao garçom do botequim ‘um café que não fosse requentado’.
Já o guaranazinho ficou restrito às casas antigas, tomado em jejum pelos que ainda acreditam no seu poder natural.
Os apreciadores juram que o pó raspado na hora é mais saboroso.
Uma das paisagens mais bonitas que já vi foi uma fazenda de guaraná no Norte de Mato-Grosso — um espetáculo de natureza e trabalho.
Hoje, por depender de terceiros, troquei o copinho de guaraná em jejum pela xícara de café fumegante.
Ambos guardam sabores que me encantam e me ajudam a bem começar o dia.
Gabriel Novis Neves
16-10-2025
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