Um tesouro colorido, cheio de lembranças costuradas entre tecidos e histórias.
Quando criança brincávamos de jogar botões no corredor da minha casa da rua do Campo.
Cada botão representava um jogador de futebol do clube do nosso coração,
A exceção era o goleiro — uma caixa de fósforo cheia de areia.
O meu clube sempre foi o Botafogo, Pedro torcia para o Fluminense e Inon para o Flamengo.
Pegávamos sem autorização os botões da caixa de mamãe e, às vezes dos casacos do meu pai.
Para a defesa remontávamos os botões com piche — derivado do asfalto — deixando-os mais altos.
Para o ataque, o ideal eram os botões baixinhos, que faziam o biri — a bola do nosso jogo de botão caseiro — cobrir o goleiro.
Mamãe vivia reclamando do sumiço dos seus botões, guardados para confecção das roupas.
Meu pai, porém, nunca percebeu a falta dos botões arrancados de seus casacos antigos.
Na época das férias a jogatina tomava o dia inteiro.
O melhor jogador de botão daquele tempo era Edur Gomes Monteiro, médico, infelizmente falecido muito cedo.
Ele tinha um timaço de botões, verdadeiramente invencível.
Quando o jogo acontecia em sua casa, o placar era sempre de goleada.
Hoje, todos os brinquedos são industrializados — e logo as crianças os abandonam.
Naquele tempo, nós mesmos criávamos nossos brinquedos alguns com o auxílio de mamãe.
O jogo de botões me transporta ao passado, à caixa de botões da mamãe — verdadeiro tesouro colorido, cheio de lembranças costuradas entre tecidos e histórias.
Quantas vezes ela deixava seus afazeres para jogar botões conosco!
Assim foi até março de 1953, quando deixei aquele paraíso para estudar no Rio de Janeiro.
Quando voltei, tudo havia mudado — e senti que o meu mundo infantil não existia mais.
Gabriel Novis Neves
21-10-2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.