Giravam preguiçosos nas tardes quentes de Cuiabá, espalhando o cheiro de café e conversa boa, há poucas décadas.
Não me lembro de ventiladores de teto no bar do meu pai, tampouco nos bares e lares de Cuiabá, durante minha infância e juventude.
Recordo deles apenas nos salões de bilhar do bar Pinheiro, na rua do Meio.
Na casa dos meus pais também nunca houve necessidade de ventiladores de teto.
Todos nós dormíamos em camas cobertos com cobertores das Casas Pernambucanas — o ano todo.
É certo que o calor cuiabano era amenizado pelos grandes quintais arborizados, onde os raios solares mal tocavam no chão.
As ruas, igualmente sombreadas por árvores frutíferas e copas generosas, faziam de Cuiabá uma cidade respirável.
Com o desparecimento dos quintais, a falta de arborização nas calçadas e o asfalto tomando conta de tudo, o clima quente de Cuiabá transformou-se em insuportável.
Quando retornei à minha cidade natal, morei numa casa, cuja rua ainda não era asfaltada.
O lençol freático raso permitia o escoamento constante de água, formando lagoas, tanques e córregos espalhados pela cidade.
O primeiro aparelho de ar refrigerado comprei em 1968, quatro anos após a minha volta a Cuiabá.
Na época da implantação da Universidade Federal de Mato Grosso, contratei uma pesquisadora portuguesa.
A única exigência que ela me fez foi trabalhar em ambiente refrigerado — e que eu instalasse aparelhos de refrigeração em todos os cômodos do seu apartamento de noventa metros quadrados.
Hoje, tenho refrigeração em todas as dependências do meu apartamento.
Minha filha, mais moderna, colocou ar-condicionado inclusive nos banheiros de sua casa.
Minha afilhada, por sua vez, defende o projeto ‘Cuiabá Mais Verde’, que busca devolver à cidade o conforto da sombra e o equilíbrio do clima, através da arborização de ruas e avenidas da antiga Cidade Verde.
Esse projeto depende da aprovação da Câmara Municipal e sanção do Prefeito Municipal.
Mas, no meio do caminho, esbarram-se os interesses das grandes construtoras e seus espigões de concreto — afinal, nossa capital é ainda uma cidade em ocupação.
E são esses megaempresários que financiam as eleições.
Vamos rezar!
Gabriel Novis Neves
21-10-2025
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