terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

FAÇA O QUE DIGO...


É um velho ditado popular - e nunca saiu de moda. “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” 
Há dias, em rede nacional de rádio e TV, a presidente deu uma injeção de ânimo em nossos empresários da indústria. Prometeu o seu fortalecimento e determinou metas a serem cumpridas. Garantiu a presença da indústria nacional nas licitações públicas, hoje sem condições de competir com os tigres asiáticos.
Fiquei eufórico com a notícia da Presidência da República! Na ocasião houve o lançamento do programa Brasil Mais. Acontece que, naquele mesmo instante, o então Ministro da Defesa fazia o que tinha por hábito fazer todos os anos - comprar na China as fardas dos militares brasileiros, por questão de preços.
Situação cômica.

Devido a sua falta de educação – falar mal dos colegas -, e após confessar que não havia votado na Presidente, esse ministro foi convidado a se retirar do governo vestido com a farda chinesa.
O falador gaúcho justificou a compra dizendo que lá na China as fardas eram 25% mais baratas que as fabricadas por aqui.
A compra foi anulada para manter a autoridade do governo, e nós iremos arcar com mais esse aumento de preços. O único governante do planeta Terra que realizou milagres foi Cristo.
As nações desenvolvidas geralmente são aquelas que possuem políticas públicas de qualidade – aplicadas com seriedade e honestidade -, e são planejadas e executadas por profissionais que, nos seus currículos, contabilizam 90% de esforço e 10% de talento.
“Faça o que digo, não faça o que eu faço”, é parente em primeiro grau do - “Falar é fácil, difícil é fazer.”

Gabriel Novis Neves
19-09-2011

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Iludir


Confesso que tive dificuldade para escolher um verbo para o título deste artigo. Não gosto do modelo Lupi na escolha de verbos para se defender.
O verbo amar, que utilizou no Congresso para tentar impedir a sua demissão a pedido, foi simplesmente desrespeitosa para com a presidente.
Existe uma liturgia para quem exerce funções públicas de alto nível. Imagine um ministro declarar à presidente da República: “Eu te amo Dilma.”
Na mais benévola observação, essa declaração exprime uma cafajestada de quem não está absolutamente preparado para respeitar o cargo que ocupa. Quem não respeita a liturgia do cargo, no cargo não deve continuar.
Li na revista “Veja” uma entrevista do atual ministro da Saúde, causa da minha dificuldade para o título do artigo.
Entre os atos de enganar, ocultar, esconder a verdade, mentir, escolhi o suave iludir. Ao responder uma pergunta do jornalista Otávio Cabral, o ministro não foi sincero. Utilizou-se de artifícios para esconder a verdade que dói. Respondeu ao repórter que o ex-presidente não escolheu um hospital do SUS para tratar o seu câncer, pois há mais de trinta anos paga um plano de saúde particular e nada mais correto que o utilizasse agora.
“Veja” lembrou ao ministro que existe uma corrente na internet dizendo que seria bom se o antigo metalúrgico experimentasse na própria pele o que o povo brasileiro sente quando procura a rede pública de saúde, que ele classificou como excelente, chegando a recomendar ao Obama que implantasse o nosso modelo nos Estados Unidos da América do Norte.
Para concluir, perguntou ao ministro da Saúde se o SUS é tão ruim assim. Respondeu o professor que o SUS está preparado para tratar de câncer. Os medicamentos que o ex-presidente está recebendo no Sírio Libanês são os mesmos fornecidos pelo SUS.
Ah! Dá licença, assim é abusar da nossa paciência! O ministro precisa conhecer o SUS e como funciona a sua Farmácia de Alto Custo. E saber, também, que o plano de saúde que o Sírio Libanês aceita, é aquele que o ex-presidente conquistou em oito anos de mandato.
Vagas hospitalares e profissionais de oncologia para o SUS faltam em todo o Brasil. No próprio Estado de São Paulo, em centro de excelência como Barretos, e outras cidades, inclusive na capital, em 24 horas é impossível marcar uma consulta oncológica, encontrar vaga em UTI, fazer biópsia, obter o resultado e no outro dia iniciar a quimioterapia.
O ilusionista ministro contraria as pesquisas que mostram que o brasileiro considera a saúde o pior serviço prestado pelo governo. Para quem tem o plano de saúde do Planalto, falta apenas obsessão pela qualidade.
Qualidade requer investimentos, e o ministro foi mais realista que a presidente, quando afirmou que sem financiamento público não haverá qualidade.
Acho que o presidente agiu acertadamente procurando o melhor, pois conhece muito bem o funcionamento do SUS.
Sei como funciona o SUS, e, principalmente, o setor oncológico - como médico e vítima dessa doença em pessoa da minha família, tratada com recursos próprios nos melhores hospitais do Brasil.
Até medicamentos utilizados em todo o mundo, a ANVISA proibia o seu uso no Brasil, para que os pobres não tivessem acesso.
Com o plano de saúde do planalto, tudo é possível.
Ministro, o povo brasileiro não suporta tanto sofrimento com a pílula dourada que o senhor nos quer jogar goela abaixo.
Saia de Brasília, anonimamente, e visite os hospitais de Câncer que atendem o SUS.
O resto é ilusão.

Gabriel Novis Neves
14-11-2011

domingo, 5 de fevereiro de 2012

QUASE HERÓI


Considero o crepúsculo da vida como aquele momento em que já é possível se avistar a ponta do cordão do amanhecer. Um pouquinho mais, e o laço é feito, encerrando a nossa missão por aqui.
Vendo essa ponta hipotética do cordão - onde o dia que se inicia é a nossa vida - com o sol radiante saindo do seu esconderijo, recordo-me como em um filme de longa metragem, de fatos que me marcaram - os famosos pontos luminosos do Carlos Heitor Cony.
Estava no iniciozinho da década dos anos cinquenta, quando, por um ano, tive aulas de literatura brasileira. O professor nos apresentou aos grandes nomes da poesia, romances, contos, histórias, enfim, às celebridades do Brasil passado e presente.
Para um menino do interior e com a fertilidade da imaginação juvenil, logo os transformava em mitos.
Quando estudante de medicina no Rio, em uma manhã - no trajeto para a Santa Casa - vejo uma pessoa que, para mim, não era de carne e osso: o poeta Manuel Bandeira, aquele mesmo do livro do Colégio Estadual.
Depois vi Carlos Drumonnd de Andrade e, durante meus 12 anos de Rio, um número considerável de personagens vivos do livro em que estudei, se materializou na minha frente.
Mas o assunto que quero refletir com vocês é sobre a obra do poeta baiano Gregório de Matos. A melhor qualificação que foi dada ao baiano na aula do meu colégio, foi o de representante de satanás.
Os seus versos eram impressos em panfletos e distribuídos à população. O linguajar usado era cheio de palavrões e ofensas, principalmente aos governantes. Um verdadeiro transgressor dos padrões da época, que teve a coragem de cutucar a elite baiana.
Ganhou a imagem de libertário, e até hoje tem fama de revolucionário. Atribuiu-se a Gregório de Matos a defesa dos negros, pobres, o que o deixou próximo de tornar-se um herói nacional.
Acontece que ninguém sabe se as peças atribuídas a ele são mesmo da sua autoria. De qualquer modo, o poeta que me foi pintado em sala de aula, tem muito pouco de libertário.
João Adolfo Hansem, da Universidade de São Paulo (USP), defendeu em 1989, que essa fama de Boca do Inferno é falsa. No livro “A Sátira e o Engenho”, o crítico da USP mostra que o poeta odiava negros, pobres, índios e judeus.
Gregório era um fidalgo do reino português daquela época. O crítico Hansem comparou a sátira atribuída a Gregório de Matos, às denúncias secretas da Inquisição, muito comuns naquela época.
Desde 1591, a Bahia abrigou agentes do Santo Ofício, incumbidos de condenar bruxas, homossexuais, judeus e hereges em geral.
Na Europa, a condenação incluía ser queimado nas enormes fogueiras que marcaram o fim da Idade Média.
Na verdade acredita-se que foram beatos muito fofoqueiros, esses poetas que ganharam o nome de Gregório de Matos.
Esta história de santos de pés de barros e santinhos do pau oco vem de longe e hoje nos assustam com as suas atitudes.
Gregório de Matos quase se tornou herói nacional. Os de hoje, consideram-se heróis de si mesmo.

Gabriel Novis Neves
30-12-2011

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Rosas da Chapada


Um pedacinho do céu  pousou na terra por problemas técnicos.
Na ocasião, sobrevoava Cuiabá e, por erro de cálculo, caiu num altiplano sem água, que mais tarde recebeu o nome de Chapada dos Guimarães.
Esquecida durante séculos, aos poucos foi sendo descoberta pela curiosidade dos cuiabanos em desvendar as suas belezas naturais.
A sua altitude, de clima diferenciado, com predominância das correntes gélidas que vêm da Cordilheira dos Andes, dão um aspecto de cidade não tropical de clima tórrido.
A linda e tortuosa subida da serra, com suas fantásticas quedas de águas, logo foram batizadas com o nome de Salgadeira e Véu da Noiva, que fica no Portão do Inferno - o seu cartão de visitas.
A enorme cratera, de um cenário invejável, muitos séculos atrás foi mar. Nas suas rochas foram encontradas inscrições dos fenícios, exímios navegadores e comerciantes.
A Chapada é uma terra que atrai turistas de todas as preferências. Desde os estudiosos arqueólogos, místicos, poetas, músicos, religiosos, fotógrafos, artistas plásticos, naturalistas, até os apreciadores do ócio.
Como é bela esta cidadezinha! Com sua igrejinha - de mais de duzentos anos -, sua vegetação exuberante e exótica, seus pássaros multicoloridos, seu clima agradável e um quê de místico no ar, é um convite ao relaxamento e à meditação.
Chapada inspiradora e dos suspiros profundos - de difícil interpretação. Cidade do amor à primeira vista, dispensando a sempre presente paixão-aperitivo.
Tudo na Chapada é rápido e direto, onde decisões tomadas jamais causaram arrependimento. As coisas da Chapada me fazem cair de amores, como em um reflexo condicionado.
Neste Natal, um amigo me mostrou a coleção de rosas que nasceu no quintal de sua casa em Chapada. Além daquelas de coloração tradicional, uma infinidade de combinações de cores, construíram um cenário dos céus.
Rosas de cores fortes, mescladas, e algumas, de tão suaves na sua tintura, pareciam desbotadas. Rosas com vida, dando razão ao poeta do povo que conversava com elas e sentia o perfume que trazia da pessoa amada.
Rosas, rosas e rosas. Há necessidade de continuar tentando descrever a sua beleza. Silêncio. Quero olhar calado, acionar todos os meus neurônios e pensar. Pensar sobre o mistério da beleza das rosas da Chapada.

Gabriel Novis Neves
13-01-2012

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O QUE É?


Acordei bem, considerando os indicadores das minhas funções vitais. Sabia onde estava, respirava normalmente, não sentia nenhuma dor física e era mais um dia que estava nascendo.
Ainda escuro, me preparo e vou para a academia de ginástica, por honra da firma. Quando moço, via o dia amanhecer lendo alguma coisa, ouvindo noticiário da televisão e o movimento de uma casa com três pequenas crianças e uma mãe superproterora. Regina transferiu para essas crianças até a sua última célula.
Agora faço todo esse preparo em silêncio e vou para a malhação. Esteiras e máquinas as mais diferentes, para reforçar velhos músculos para segurar a pesada estrutura óssea do velho cronista da padaria.
Na volta da puxada aula de ginástica, ao desfazer o nó do cadarço do meu tênis, sinto que me faltava não sei o quê.
Uma tristeza aguda desabou sobre mim sem motivo algum. O dia não é de nenhuma data especial, o silêncio em minha casa chega a me incomodar, não ouço vozes e forças não tive para ligar a televisão para ver e ouvir desgraças.
Não consigo dominar o meu pensamento, que insiste em me lembrar de frases do passado: “Não gostaria de deixar essas crianças. Queria ficar mais tempo com elas. Sei que vou morrer.”
O que está acontecendo comigo nesta manhã? Tentei sair desse poço de emoções, onde muita água engoli na angústia vivida.
Ensinaram-me que o tempo é o melhor remédio que existe. Acreditava no poder da milagrosa fórmula do tempo para a cura, especialmente para os males da alma.
A minha concepção atual, é que o tempo ameniza, mas não cura. Fico a pensar na existência da cura. O seu diagnóstico diferencial tem que ser feito com o tempo do nosso ciclo vital.
Tenho receio dos fazedores de milagres, e hoje são tantos, com os mais diferenciados equipamentos e nomes sofisticados, que os pobres não entendem e nem acesso têm a eles.
São verdadeiras fábricas de curas mercantilizadas. Toda doença hoje, com um bom cartão de crédito, é curada, como se isso fosse simples e fácil.
Tentam fazer o mesmo os comerciantes da felicidade. Por que o meu cérebro resolveu me presentear com essas recordações sem me avisar, para que eu, pelo menos, me preparasse para recebê-las?
O pensamento é indomável. Saí de casa para o trabalho com a pergunta que não sei responder.
O que é isso?

Gabriel Novis Neves
16-01-2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O óbvio ululante


Essa expressão foi criada por Nelson Rodrigues no início dos anos cinquenta. Significa coisa clara e patente.
Refere-se a tudo que é “lugar comum, que é banal, não original, enfim a tudo aquilo que é visto à primeira vista e que não exige criatividade, renovação.”
Custei muito a entender o Nelson Rodrigues. Achava que escrevia ficção, e não, a vida como ela é.
Estudante no Rio, eu lia tudo do Anjo Pornográfico e assistia, quando a mesada permitia, às suas peças de teatro.
Não tenho receio algum de chamá-lo de gênio, ele que foi um dos autores mais polêmicos do Brasil. Fez muitas coisas boas, e outras nem tanto assim, mas o saldo da sua extensa obra lhe é favorável.
Vestido de Noiva, encenada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, mudou a história da dramaturgia brasileira.
Nelson, na sua coluna “Confissões” no Jornal O Globo, despertava compaixão, amor e ódio. É a gloria de todo escritor, pois “toda unanimidade é burra”, segundo o autor maldito - como era chamado pelos seus desafetos.
Ali nasceu o óbvio ululante, e o escritor que criticava e elogiava sem demagogia nem troca de favores.
Nelson escrevia porque precisava da escrita como do oxigênio para viver. Ganhou dinheiro sem fazer concessões. Os seus artigos eram materiais de consumo.
Nelson dizia que “o trágico da nossa época ou, melhor dizendo, do Brasil atual (1950), é que o idiota mudou até fisicamente. Não faz apenas o curso primário, como no passado. Estuda, forma-se, lê, sabe. Nas recepções do Itamaraty, as casacas vestem os idiotas. E mais: eles têm as melhores mulheres e usam mais condecorações do que um arquiduque austríaco.” Esse texto pode perfeitamente ser utilizado nos dias de hoje.
O que diferencia o gênio dos demais mortais, é que a sua obra não envelhece. Está sempre atualizada.
Hoje, temos escritores que criticam (poucos) e os que elogiam (muitos). Como proliferaram os idiotas em todo o mundo! Têm curso superior com pós-graduação. Só usam produtos de grife para esconderem a sua idiotia. Estão em todos os lugares, e se acham, como todo idiota, que nasceram com o poder do óbvio ululante (enxergarem as coisas claras).
Prepotentes, presunçosos e vaidosos, dominam o cenário político e social. E, como os idiotas, são insensíveis. Também, se não fossem, não seriam idiotas.
Para que não pairem dúvidas sobre o significado do óbvio ululante, citarei alguns fatos, dentre muitos, acontecidos em janeiro de 2012.
- Dilma elogia Haddad como o grande ministro da educação do Brasil. É obvio ululante, pois o mesmo é candidato da presidente à prefeitura de São Paulo.
- No Rio, o governador do Estado cumprimenta a presidente por ter vetado a emenda constitucional 29, que destinava mais recursos para a saúde pública. Isto porque, para o Rio, existem recursos especiais para a saúde pública, força nacional para a segurança pública e vistas grossas para a administração atual.
- O sindicato dos empreiteiros de Mato Grosso afirma que o Estado não paga a execução das obras contratadas. Alguma dificuldade em entender por que um grande número de obras está paralisado?
- O Governo Federal deverá liberar R$ 423 milhões do FGTS para o VLT de Cuiabá. O Estado completará com empréstimos de, aproximadamente, R$ 700 milhões. No momento o cofre do Tesouro do Estado está vazio. Todo mundo sabe da situação financeira do Estado, e o corte inicial de mais de R$1 bilhão no seu orçamento.
- Em Mato Grosso, 42% de empresas fecharam as suas portas em 2011, conforme levantamento da Junta Comercial de MT (Jucemat).
É obvio ululante que ficarei por aqui. Os médicos de Várzea Grande estão em greve.

Gabriel Novis Neves 
19-01-2012

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

COVEIROS DA PEC 29


Após mais de dez anos de sofrimento no Congresso Nacional, veio a falecer, no início deste ano, a conhecidíssima PEC 29.
O seu nome verdadeiro era Projeto de Emenda Constitucional, registrada com o número 29. Para os íntimos, PEC 29.
O que pedia a finada PEC? Apenas mais recursos financeiros para a nossa saúde pública.
Todos os brasileiros confessaram que o mal maior da nossa saúde oficial debilitada, era os parcos recursos que, principalmente, o governo federal, destinava para sua manutenção.
Falta de financiamento público para a saúde serviu apenas para campanhas políticas nesses últimos vinte anos.
Todos os candidatos, aos mais diversos cargos federais, estaduais e municipais, sem exceção, reconheciam o estado precário em que se encontrava esse essencial serviço público.
Prometeram atenção especial ao caso até o resultado das urnas. Depois, todos sabem o desenrolar da tragédia que acometeu toda a população brasileira.
Os cargos eram loteados e os ocupantes, na sua maioria, não tinham conhecimento técnico do assunto, muito menos, compromisso com os mais necessitados.
Ninguém teve a ideia de levar a PEC até o Sírio-Libanês em São Paulo para um tratamento ressuscitador.
A PEC percorreu o Brasil todo. Foi apresentada em todas as famosas Audiências Públicas para ouvir discurseiras.
Segundo historiadores, a PEC foi mais debatida, e sempre com a conclusão da necessidade de aumento de financiamento público, do que os debates para a criação da Petrobrás.
Ninguém neste país disse que a PEC é nossa - como diziam com relação ao petróleo. Este era nosso, a saúde não. Agora sabemos que a saúde é das OSS.
É oportuno esclarecer que essa emenda constitucional não pedia, e nem era necessária, a criação de novos impostos para aportar maiores recursos para a saúde pública.
O governo tinha interesse em fazer vingar esse factóide em uma nação que possui trinta e oito ministérios, sendo que, no primeiro ano de governo, teve ministro que nem audiência conseguiu com a presidente.
A eliminação de algumas dessas inutilidades criadas para prêmio de consolação aos amigos derrotados, e a diminuição do tamanho dos ralos, onde bilhões de reais são perdidos, era tudo que a população brasileira necessitava para o Brasil cumprir o seu dever constitucional com relação à saúde.
A FIFA está cobrando o Brasil para mudar a sua constituição - como foi combinado, para adotar as leis do futebol.
Muitos se surpreendem com Cuiabá, capital de um Estado riquíssimo, com muitos bilionários, não possuir um hospital Estadual. Mas, em compensação, está construindo um campo de futebol que, quando a bola rolar, o seu preço deverá, na melhor das hipóteses, ter alcançado um bilhão de reais. Os detalhes custam, muitas vezes, mais que a própria obra.
A PEC 29 morreu. O anúncio oficial foi feito por um representante importante do Ministério da Saúde que, em nossa cidade, anunciou grandes investimentos do governo federal - que estão no papel: três milhões de reais para os Prontos Socorros de Cuiabá e Várzea Grande, divididos irmãmente.
Esses dois hospitais atendem um milhão de pessoas da Grande Cuiabá, além dos casos de média e alta complexidade de todo o Estado.
Receberão, se receber, três milhões de reais. O governo do Estado, só de sinal para uma compra de dez jipes russos, desembolsou quase essa quantia. O total da compra, que foi abortada, o valor era quase cinco vezes a quantia prometida pelo governo federal para o Pronto Socorro de Cuiabá.
O corpo da PEC 29 foi colocado em cova rosa e, em uma única coroa de espinhos, se lia: “A presidente encaminhou mensagem ao presidente do Senado Federal, que é senador do Amapá, dizendo que, após ouvir os ministérios do Planejamento e da Fazenda, vetou parcialmente a lei com relação ao aumento de financiamento para a saúde pública, por contrariedade ao interesse público e inconstitucional.”
O caixão foi fechado e os coveiros o cobriram de terra.

Gabriel Novis Neves
17-01-2012