Era terça-feira de carnaval e a cidade ainda pulsava sob os últimos acordes da folia.
O confete se misturava ao orvalho da madrugada, e os foliões, já exaustos, dançavam com a melancolia de quem sabe que a festa está para acabar.
No salão do clube, a orquestra tocava as derradeiras marchinhas, mas os casais que restavam já não pulavam como antes—,apenas rodopiavam devagar, abraçados a uma saudade que ainda nem havia chegado.
Entre eles, estava Maria, vestida de Colombina, com o olhar perdido entre as serpentinas que caíam do teto.
Antônio a observava de longe. Desde o primeiro dia de carnaval, vinha ensaiando um convite para dançar, mas sempre faltava coragem.
Agora, quando a festa ameaçava se desfazer no silêncio da quarta-feira de cinzas, percebeu que era sua última chance.
Tomou fôlego e atravessou o salão.
Quando chegou perto, Maria sorriu, como se já esperasse por ele há tempos.
Sem dizer palavra estendeu a mão.
Antônio aceitou o convite mudo, e os dois começaram a girar ao som de um frevo já cansado, que soava mais como uma despedida do que como celebração.
Naquele instante, o tempo parecia suspenso.
O riso dela era um sopro morno na pele dele; os dedos entrelaçados guardavam a memória daquele instante efêmero.
O salão se esvaziava aos poucos, os foliões iam se rendendo ao cansaço, mas Antônio e Maria dançavam como se quisessem prolongar a festa para sempre.
Quando os primeiros raios de sol surgiram, a orquestra silenciou. O salão estava quase vazio. Antônio a conduziu para fora, onde a cidade amanhecia sob os vestígios da festa.
— Acabou — disse Maria, num sussurro.
João sorriu.
— O carnaval, sim. Mas e se a gente inventar um outro, só nosso?
Maria não respondeu, mas apertou sua mão com mais força.
E assim, entre restos de confete e promessas de uma quarta-feira que talvez não precisasse ser de cinzas, caminharam juntos pela rua deserta, como se a festa ainda pudesse durar para sempre.
Gabriel Novis Neves
02-02-2025
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