Recebo pelas redes sociais relatos de muitos amigos que não assistiram ao carnaval – nem mesmo pela TV.
A televisão foi um divisor de águas entre o antes e o depois, quando o assunto é entretenimento.
Antes dela, o carnaval era uma festa que levava todos para às ruas. Assistíamos aos blocos, aos desfiles improvisados, ou nos jogávamos nos salões para dançar e brincar até o dia amanhecer.
Era nesses espaços que conhecíamos os grandes artistas do rádio e as coristas dos teatros de revista.
Com a chegada da televisão – primeiro em preto e branco, depois em cores –, o carnaval invadiu nossas casas.
Confortavelmente sentados, passamos a assistir a um espetáculo grandioso, com ângulos e detalhes que as ruas não mostravam.
Ainda assim, apesar de ser uma paixão nacional, muitos dos meus leitores confessaram que não assistiram ao carnaval deste ano – nem pela TV.
Os desfiles foram transformados em vitrines, onde mulheres de corpos esculturais vendem felicidade e recebem o título de atrizes.
Seus companheiros, por sua vez, desfilam sua nudez absoluta como troféu.
Nos camarotes especiais, garotas deslumbrantes dividem flashes com jogadores de futebol e cantores sertanejos.
Imagens que, em muitos momentos deveriam ser censuradas para menores de 18 anos. Afinal, há cenas que ultrapassam qualquer limite – até mesmo o do pudor.
Lembro-me de um tempo em que, em Cuiabá, antes da televisão, as famílias levavam seus filhos aos bailes infantis nos clubes nas tardes de folia. Ou saíam juntos para brincar o carnaval nas ruas. À noite, os adultos vestiam fantasias ou disfarces e seguiam para os salões.
Havia os que preferiam apenas observar o movimento na Praça Alencastro.
Eu, rapazinho, acompanhava tudo da porta do bar do meu pai – inclusive as brigas de namorados enciumados.
Quando a televisão colorida chegou à Cuiabá, os grandes eventos passaram a ser transmitidos ao vivo.
Passávamos noites assistindo ao concurso de Miss Brasil, ao Festival da Canção, à virada do ano e, claro, aos desfiles das escolas de samba na Sapucaí. Isso foi há trinta anos.
Hoje, sequer tive coragem de ligar a TV. Talvez por desinteresse. Talvez pela idade avançada.
Mas e os mais jovens? O que os fez perder o encanto?
Gabriel Novis Neves
05-03-2025
DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA, RIO, 1974
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