sábado, 16 de março de 2013

POR TRÁS


Certas notícias merecem uma leitura especial, pois às vezes a verdade está por trás delas.
Leio que o governo federal autorizou a contratação de trinta e três novos médicos para atuarem no Programa Saúde da Família (PSF) em Mato Grosso - que possui cento e quarenta e um municípios carentes desses profissionais.
Claro que fiquei satisfeito por saber dessa decisão federal!
Entretanto, o depoimento de um dos novos contratados me deixou preocupado com relação ao futuro desse profissional e a qualidade dos serviços oferecidos à população pobre.
“Formei-me em medicina no início deste ano (2013). Fiz a minha inscrição no Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica e optei por ficar em Cuiabá. Prestarei os meus serviços na região do Campo Velho.”
A bolsa oferecida pelo Ministério da Saúde é de oito mil reais em contrato temporário, bem superior ao que recebe um médico concursado com curso de pós-graduação no serviço público.
O perfil desses médicos recém-graduados contratados, enquadra-se em um dos maiores problemas da formação médica no Brasil: a falta de vagas nos cursos de residência médica, obrigatório nos dias de hoje para assegurar ascensão dos médicos e melhorar a sua qualificação profissional.
Todos os alunos que terminam a graduação em medicina disputam vagas nas residências insuficientes.
Os que não conseguem aprovação aceitam qualquer tipo de trabalho, pois precisam sobreviver, além de ser mão de obra barata.
Assim que conseguem uma vaga em um curso de residência médica, abandonam o PSF.
O grande desafio do SUS é ter médicos bem formados e próximos das populações mais carentes.
Entretanto, estamos na contramão da formação desses profissionais ao abrirem, politicamente, mais escolas de medicina.
Atualmente, temos cento e noventa e oito escolas formando médicos no Brasil, e a meta do governo é chegar em 2014 com mais quarenta e cinco faculdades de medicina.
O correto, e necessário, seria a ampliação de novas vagas e cursos de residência médica no Brasil.
Por trás da notícia, preocupações. A mais inquietante, sem dúvida, é a de que, dos 33 novos contratados, 15 ficarão em Cuiabá.
O interior continuará sem médicos, com o total apoio do governo federal.

Gabriel Novis Neves
14-03-2013

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