quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sou eu

Dezembro, de acordo com a doutrina cristã, é o mês dedicado à família. E a família que nos é apresentada pelos textos bíblicos, como modelo de todas as virtudes e qualidades, é a Sagrada Família: Jesus, José e Maria. Jesus, o que nos salva; Maria, a cheia de graça; José, o homem justo.

Nas palavras de João Paulo II, “é na Sagrada Família que todas as famílias devem espelhar-se. Ela constitui o protótipo e o exemplo de todas as famílias cristãs.”

Dentre as festividades do mês de dezembro, é celebrada a Festa da Sagrada Família, ocasião em que a família de Nazaré é apresentada como fonte de inspiração e exemplo para todas as demais.

Nos tempos atuais, quando as famílias, de um modo geral, passam por sérias crises de identidade e de valores, acho muito apropriada esta celebração. Mas, a par desses problemas, aquele conceito milenar de família ainda perdura até os nossos dias.

Dos meus tempos de catecismo, ficou marcada em minha mente a grande sabedoria de Maria. Mãe amorosa e abnegada, educou seu filho Jesus para o mundo. E para a humanidade Jesus se consagrou. Maria ficou só. Mas não ficou na solidão, pois sua vida era repleta de luz, carinho, amor e paz.

Já que ainda estamos no mês destinado à família, vou falar brevemente sobre a minha. Meus pais tiveram nove filhos. Eu, o mais velho. Minha mãe viu os filhos crescendo e, pouco a pouco, deixando o ninho original. Cada qual foi construir sua própria família. Com a morte de meu pai, minha mãe ficou por longos vinte e três anos com o seu ninho totalmente vazio. Mas ela não estava só, muito menos sofria de solidão. Possuía aquela sabedoria nata das pessoas abençoadas por Deus. Alegre, extrovertida, poeta, gostava de cantar e compor e, acima de tudo, possuía a paz que só o dever retamente cumprido traz. Lembro-me que ela costumava dizer: “Minha família sou eu.”

Vivo essa mesma situação. Meus três filhos construíram as suas próprias famílias, e a minha mulher, sem aviso prévio, partiu para nos esperar em outro mundo - com certeza melhor que este. Mas, a exemplo de minha mãe, não sinto solidão. Acho até que ela vela por mim. Tanto é assim que tenho certeza de que ela me enviou um pouquinho da sua intimidade com as letras para me fazer companhia. E hoje posso repetir suas palavras: “Minha família sou eu.”

O mês de dezembro termina com despedidas: “adeus Ano Velho, feliz Ano Novo.” Aí surge um problema. Não gosto de despedidas. Nunca achei a despedida como algo a ser comemorado. Pelo contrário, a despedida desperta em mim o sentimento de perda, incerteza e tristeza. Mas, o problema não é esse. Estou vivendo, ou melhor, sentindo a preocupação dos meus filhos com essa noite de despedida. Os jovens relacionam felicidade com festas e multidões. E querem porque querem que eu vá com eles participar de uma grande festa em despedida ao Ano Velho, e saudar o Ano Novo. Para os jovens, solidão é se encontrar só. Já os velhos sofrem com a solidão das multidões.

Meus filhos não entendem que, para mim, passar o dia 31 de dezembro no meu jardim não me causa o constrangimento do abandono nem infelicidade, muito menos, solidão. Muito pelo contrário. Tudo o que eu desejo, aspiro, e que me faz feliz, está justamente dentro da minha casa. Mas, eu entendo. Eles são jovens. Não entendem os mistérios da velhice – ainda.

E, do alto do meu jardim, com o pensamento voltado para a Sagrada Família, e com muito amor e paz, saúdo a todos. Em nome da minha família – que sou eu.


Gabriel Novis Neves

Cuiabá, 28-12-2010

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