domingo, 2 de maio de 2010

Presentes virtuais

Após as minhas orações matinais, que faço da janela do meu quarto no vigésimo andar olhando para o nascente antes do aparecimento do Rei Sol, agradeço por ter vencido mais uma noite. Não há coisa mais traiçoeira que a noite - a grande responsável pela nossa última viagem. Peço proteção ao Criador, para enfrentar o novo dia que está nascendo. Procuro lembrar os pecados por mim cometidos no dia anterior, e aqueles que ficaram no meu esquecimento, e peço o perdão do Criador.

Lembrei-me de um pecado novo na minha longa carreira de pecador. São pecados veniais, originados da idade: o esquecimento. Estou constantemente me esquecendo das promessas que faço pelas minhas andanças por aí. Não são promessas políticas, mesmo porque estas são pecados mortais. São pecadinhos veniais os meus; alguns presentes prometidos e não dados, quase desaparecidos da minha memória, na poeira do tempo. Com esforço alguns submergiram do fundo do meu inconsciente: peixes do pantanal, pêra (abreviação de peraputanga, delicioso peixe da nossa região) sem espinho, arroz doce, pão de queijo, galinha caipira, farinha do Mimoso, queijo de fazenda, leitãozinho especial, pimenta malagueta, bolinho de polvilho, pão caseiro, frutas da ocasião, não contando as inúmeras amostras grátis de medicamentos para todos os males. Os pecados são veniais, repito, mas estou preocupado. A lista está tão longa, que temo que lá de cima o perdão não venha assim tão rapidinho não. Enfim, que fazer? A minha memória anda me pregando muitas peças! Mas Deus entende.

Confio na justiça divina. A justiça dos homens é outra coisa – muitas vezes nem justiça é. Os homens somam os pecados, anunciado o tempo de condenação em números alarmantes, chegando a alguns casos a ser centenária. Depois vem o desconto, e são tantos! A justiça divina julga pecado a pecado. Tenho certeza da absolvição desses meus pecadilhos, apenas não posso garantir que não irei mais cometê-los. Já os pecadões... - também estes já estão no tribunal de Deus.

Com o tempo avançando, vou me tornando cada vez mais presa fácil para a doença da repetição involuntária. Mas prometo – outra promessa, ai, ai, ai... –que daqui para frente, vou redobrar os meus esforços para não deixar acumular tanto as minhas faltas involuntárias. Também irei com certeza me lembrar de outras, para pedir perdão. “É muito mais fácil se arrepender dos pecados que cometemos, do que se arrepender daqueles que nós pretendemos cometer.”

Os presentes que prometi vão se transformar em presentes virtuais – acompanhando a modernidade. Por isso, caros amigos, não se espantem se começarem a receber imagens de peixe, bolo de queijo, galinha caipira, frutas, pão caseiro, etc., etc...

Gabriel Novis Neves
18/04/2010

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