Tenho certeza, por fotos que minha mãe guardou, de que vi o mar pela primeira vez ainda pequeno.
Não me lembro de nada, a não ser dos brinquedos da Praça do Lido, no Posto 2, em Copacabana.
Tinha, então, mais ou menos quatro anos de idade.
Voltei ao Rio nas férias de julho de 1952, acompanhado de meu pai.
Ficamos hospedados num modesto hotel na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, próxima à rua Duvivier, onde moravam meus tios e tias — irmãos de meu pai.
Dessa vez, tomei banho de mar pela primeira vez. Não guardei nada de extraordinário como lembrança por ter conhecido o oceano.
Meu pai tinha alergia à maresia e a frutos do mar.
Tomávamos café com leite no hotel, banho de chuveiro e, lá pelas dez horas, íamos para o centro da cidade.
Caminhávamos por suas ruas famosas, como a do Ouvidor, onde as mulheres da cidade maravilhosa faziam compras — ou flertavam.
Tudo acontecia no centro do Rio de Janeiro.
O almoço era sempre no tradicional restaurante da Brahma, onde conheci gente famosa como o célebre Deputado Federal Tenório Cavalcante, que andava com uma metraradora chamada Lourdinha, escondida sob sua capa preta.
Vivia cercado de capangas e fazia sucesso com seu chapéu preto, fumando enormes charutos cubanos.
O motivo daquela viagem era o desejo de meu pai de que eu conhecesse a cidade grande onde, no ano seguinte, iria estudar.
Conheci bondes elétricos, trens e lotações — numa cidade que nunca dormia.
Não guardei nenhum impacto especial por ter conhecido o mar, ao contrário do sonho de quem nasceu longe dele.
Mas guardei aromas para sempre — como o do pão francês das padarias do Rio.
Dos ruídos permanentes das avenidas de Copacabana.
Das vistas maravilhosas da Urca, Pão de Açúcar e do Corcovado.
Do jogo, num sábado à tarde, entre Botafogo e Bangu, no Maracanã.
Do ar-refrigerado das Lojas Sears — e seu perfume que nunca mais esqueci.
Emoção ao ver o mar pela primeira vez, nenhuma.
Mas o menino do interior se apaixonou, aos poucos pelo Rio de Janeiro — nos onze anos em que estudou Medicina na Praia Vermelha.
Casou-se com uma carioca e comprou um apartamento na Ponta do Leme, para estar no mais lindo cenário do mundo: sol, mar, lua e o grito das ondas.
Gabriel Novis Neves
26-03-2025
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