Nada é estático neste mundo. As pessoas mudam, assim como palavras se modernizam. Outrora, quando ganhava um brinquedo não me desgarrava dele — até enjoar.
Hoje, diante de uma situação nova e tão esperada, o termo é curtir.
Não largava da minha primeira bicicleta, que só ganhei de presente aos quinze anos.
Mesmo depois da queda feia que levei na rua 15 de Novembro, no Porto, quase chegando às barrancas do rio Cuiabá.
Vinha em velocidade e apertei o freio da roda da frente — me estropiei todo. Ganhei como troféu: escoriações pelo corpo.
Num domingo à tarde, no Oratório Festivo, no colégio dos padres, torci o tornozelo de um jeito que mal conseguia andar. O difícil foi esconder essa lesão da minha mãe.
Passear de bicicleta, jogar futebol — eram diversões que naquela época todas as crianças adoravam.
Tive também um velho automóvel, que mais me trouxe aborrecimentos do que serviços, no início da minha carreira em Cuiabá.
E o primeiro carro novo, conquistado num consórcio de 60 pessoas, aos trinta anos de idade.
Na quarta mudança de casa, agora para o apartamento onde moro, com filhos crescidos e netos pequenos, passei a curtir muito a minha cobertura.
Realizado financeiramente— não rico — como eu curtia os sábados, domingos, datas especiais com a criançada no apartamento!
Minha mulher incentivava muito essas reuniões, e era uma curtição ficar em casa.
O tempo passou, o mundo deu suas voltas. Eu, beirando os 90, aprecio ver minha filha, o marido, as netas, bisnetos e genros curtindo loucamente o casarão que inauguraram em dezembro.
Preferem ficar em casa, reunidos, assando uma carninha e tomando banho de piscina com água morna.
Daqui para a frente vou curtir os meus dias com as coisas que gosto — e ainda posso.
Acredito que não irei aprender mais nenhuma palavra moderna... e ficarei curtindo, até.
Gabriel Novis Neves
05-04-2025
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