domingo, 9 de março de 2025

AGORA, É DEPOIS


Mesmo sem sair de casa senti o impacto dessa semana diferenciada, que é a do Carnaval.

 

Escrevo na terça-feira gorda das folias do Momo.

 

Meu telefone silencioso dorme, com a cidade sem carnaval, mas respeita seus pontos facultativos transformados em feriados.

 

Minhas cuidadoras fizeram escala especial para os dias de festa.

 

Ao longe, uma serra insiste em trabalhar sem parar, com certeza para cumprir o cronograma da obra.

 

As profissões essenciais não se curvam ao nosso calendário — para elas, todos os dias são iguais.

 

Meus colegas festeiros, sempre vendiam os seus plantões por preços inflacionados. Eu, por minha vez, os comprava, garantindo um reforço no salário.

 

Há quem faça higiene mental viajando para bem longe, às vezes sozinho, outras mal acompanhado.

 

Não saem de um quarto de hotel de turista, enquanto outros buscam um leito de hospedaria no Rio de Janeiro, apenas para assistir ao desfile das Escolas de Samba, na geral, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí.

 

Outros, mais audaciosos, fazem empréstimos bancários para comprar abadás e pular atrás dos Trios Elétricos em Salvador. Ou vão a Recife, onde dançam o frevo sob sombrinhas coloridas e desfilam em Olinda ao lado dos Bonecões.

 

O barulho que vem da construção nesta terça-feira parece indiferente ao silêncio da cidade paralisada.

 

Aguardo quarta à tarde para apreciar a cidade despertar.

 

Crianças voltando às escolas, médicos atendendo nos consultórios, bancos reabrindo ao público, comércio retomando sua rotina.

 

Daqui há quarenta dias, comemoraremos a Semana Santa, com seus feriados.

 

E assim os meses se despedem, até que, num piscar de olhos, dezembro nos envolva com sua atmosfera festiva.

 

De feriado em feriado, seguimos. O depois é sempre uma promessa de descanso.

 

O idoso está sempre cansado, ainda que permaneça no mesmo lugar.

 

Esse é um dos encantos dessa fase da vida, que procuro aproveitar ao máximo.

 

E de todos os ‘enta’ que já vivi, este é o mais charmoso.

 

Depois dos ‘enta’ é o final.

 

Gabriel Novis Neves

04-03-2025




sexta-feira, 7 de março de 2025

VOLTA À NORMALIDADE


Dos meus dois filhos que estavam viajando, um já retornou com a família.


Prenúncio de que o almoço de sábado terá a casa quase cheia.


Já sentia incômodo com o silêncio e a solidão das refeições. O barulho tem a mística da alegria, da saúde e da felicidade — especialmente com a algazarra dos pequenos.


A casa dos meus pais, com nove filhos e vizinhos que eram quase parentes, vivia em constante ebulição. Naquele tempo, as famílias não economizavam na natalidade. Hoje, é raro encontrar quem tenha mais de dois filhos.


Na minha infância, estudávamos em escolas públicas e íamos a pé para as aulas. Se quiséssemos continuar os estudos, era preciso viajar e morar em pensões em cidades maiores, como o Rio de Janeiro, onde cursei Medicina. Quando voltávamos para casa, muitas vezes éramos apresentados aos irmãos mais novos.


Meus avós paternos tiveram quinze filhos: dez homens e cinco mulheres. A diferença de idade entre eles era tamanha que, somada aos anos de estudo no Rio, os mais novos, como meu pai, chamavam os mais velhos de “doutor” quando eles retornavam. Cresceram praticamente separados, sem a convivência típica de irmãos, mais próximos como conhecidos do que como família.


Mas neste sábado tudo volta ao normal. O almoço será animado, cercado pela criançada.


Minha bisneta caçula completará um ano em abril, e os preparativos para a festança estão a todo vapor. Como é bom curtir os meus cinco bisnetos!


Os seis netos cresceram muito rápido… Todos concluíram o ensino superior e estão casados — exceto o mais novo, mas que já trilha o caminho para o matrimônio.


Aguardo ansioso pela chegada de todos. Sempre trazendo novidades, sempre renovando o encanto da casa cheia.


A mesa do almoço já não comporta mais tanta gente, exigindo reforço de uma auxiliar. Na despedida, as fotos para a posteridade — hoje tão fáceis de fazer. Minhas netas têm milhares delas arquivadas. Eu as guardo em pastas no computador, preservando memórias que um dia serão relíquias.


Até sábado, meus amores!


Gabriel Novis Neves

05-03-2025




quinta-feira, 6 de março de 2025

NEM TODOS


Recebo pelas redes sociais relatos de muitos amigos que não assistiram ao carnaval – nem mesmo pela TV.


A televisão foi um divisor de águas entre o antes e o depois, quando o assunto é entretenimento.


Antes dela, o carnaval era uma festa que levava todos para às ruas. Assistíamos aos blocos, aos desfiles improvisados, ou nos jogávamos nos salões para dançar e brincar até o dia amanhecer.


Era nesses espaços que conhecíamos os grandes artistas do rádio e as coristas dos teatros de revista.


Com a chegada da televisão – primeiro em preto e branco, depois em cores –, o carnaval invadiu nossas casas. 


Confortavelmente sentados, passamos a assistir a um espetáculo grandioso, com ângulos e detalhes que as ruas não mostravam.


Ainda assim, apesar de ser uma paixão nacional, muitos dos meus leitores confessaram que não assistiram ao carnaval deste ano – nem pela TV.


Os desfiles foram transformados em vitrines, onde mulheres de corpos esculturais vendem felicidade e recebem o título de atrizes.


Seus companheiros, por sua vez, desfilam sua nudez absoluta como troféu.


Nos camarotes especiais, garotas deslumbrantes dividem flashes com jogadores de futebol e cantores sertanejos.


Imagens que, em muitos momentos deveriam ser censuradas para menores de 18 anos. Afinal, há cenas que ultrapassam qualquer limite – até mesmo o do pudor.


Lembro-me de um tempo em que, em Cuiabá, antes da televisão, as famílias levavam seus filhos aos bailes infantis nos clubes nas tardes de folia. Ou saíam juntos para brincar o carnaval nas ruas. À noite, os adultos vestiam fantasias ou disfarces e seguiam para os salões.


Havia os que preferiam apenas observar o movimento na Praça Alencastro.


Eu, rapazinho, acompanhava tudo da porta do bar do meu pai – inclusive as brigas de namorados enciumados.


Quando a televisão colorida chegou à Cuiabá, os grandes eventos passaram a ser transmitidos ao vivo.


Passávamos noites assistindo ao concurso de Miss Brasil, ao Festival da Canção, à virada do ano e, claro, aos desfiles das escolas de samba na Sapucaí. Isso foi há trinta anos.


Hoje, sequer tive coragem de ligar a TV. Talvez por desinteresse. Talvez pela idade avançada.


Mas e os mais jovens? O que os fez perder o encanto?


Gabriel Novis Neves

05-03-2025



Acadêmicos do Salgueiro

Classificação. Acadêmicos do Salgueiro foi o campeão, conquistando seu sexto título na elite do carnaval. O campeonato anterior da escola foi conquistado três anos antes, em 1971. O Salgueiro apresentou o enredo "O Rei de França na Ilha da Assombração", desenvolvido por Joãosinho Trinta e Maria Augusta.


DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA, RIO, 1974



quarta-feira, 5 de março de 2025

FERIADÃO


Minha vida se transformou em um grande feriadão, onde todos os dias se repetem, com uma única exceção: a última quinta-feira do mês, quando vou ao hospital para minha imuno-infusão.

 

Por ocasião do Carnaval, quase todos os meus filhos viajaram para longe, alguns até para além do Atlântico.

 

Que comichão é esse que toma as pessoas nos feriadões, levando-os a buscar destinos cada vez mais distantes?

 

Parece que, quanto mais longe vão, mais cansativa se torna a viagem. E, ao retornarem para casa, chegam exaustos, como bagaços espremidos pelo próprio desejo de partir.

 

Eu, por outro lado, me canso de não sair. A rotina de um idoso tem essa estranha repetição, que, ao invés de tranquilizar, às vezes pesa.

 

Meus dias são feriados, mas trabalho em tempo integral.

 

Escrevo, cuido da burocracia doméstica, faço fisioterapia.

 

Observo as flores coloridas do meu jardim e escolho uma canção da MPB para compartilhar com os amigos nas listas de transmissão.

 

No Carnaval fica ainda mais evidente a paixão do brasileiro pelo futebol e pela folia.

 

Os campeonatos regionais não foram interrompidos pelos festejos de Momo.

 

No sábado à tardinha e no domingo à noite, o Santos de Neymar lotava seu estádio.

 

E na segunda-feira, às sete da noite, um grande time de São Paulo entrará em campo.

 

Há quem tente incluir o cinema como a terceira paixão nacional, mas a disputa é desigual.

 

Futebol e Carnaval são celebrações com cheiro de povo, vividas nas arenas e nos sambódromos. O cinema, ao contrário, exige salas escuras e silenciosas, espaços restritos para poucos.

 

O poder de recuperação da nossa gente é imenso: logo estarão prontos para novas jornadas de trabalho.

 

Já o ócio, esse requer um tempo maior para se recompor. Enquanto o corpo descansa, o cérebro segue atento, registrando o cotidiano e transformando-o em lembranças — essas, sempre muito necessárias.

 

Gabriel Novis Neves

03-03-2025




CINZAS E PROMESSAS


Após os excessos do Carnaval a cidade acorda em um silêncio melancólico.

 

Confetes esquecidos pelo vento, serpentinas enroscadas nos postes, uma nostalgia que paira no ar.

 

Mas e o amor?

 

Poderia ser a história de um casal que se conheceu entre marchinhas e confetes, e agora, na Quarta-feira de Cinzas, sentem o peso do fim da festa, mas também a esperança do que ficou.

 

O brilho do encontro resistiu à folia?

 

Ou tudo foi apenas um encanto efêmero, como o Carnaval que se desfaz com o tempo?

 

Talvez ele a encontre na missa, com um traço de cinzas na testa e um olhar que pede um novo começo.

 

Ou talvez ela deixe um bilhete na mesa do café, sugerindo que algumas histórias, ao contrário da folia, não precisam acabar.

 

A Quarta-feira de Cinzas pode ser um fim, mas também um recomeço.

 

Que cinzas são essas que ficam: as do arrependimento ou as de um amor que renasce mais forte?

 

Ele caminha devagar pela rua ainda salpicada de confetes, sentindo o peso do silêncio depois da música.

 

A cidade parece suspirar, exausta, mas ele sabe que não é apenas a festa que ficou para trás.

 

No café da esquina, o cheiro de pão quente e o tilintar das xícaras quebram a monotonia da manhã.

 

Ele pede um café forte e se senta à mesa onde estiveram juntos pela última vez.

 

A mesma mesa, mas agora sem risos, sem os dedos dela desenhando distraidamente traços invisíveis na madeira.

 

Olha ao redor, procurando sem querer. Será que ela virá? Será que o encanto sobreviveu à ressaca da realidade?

 

Na igreja, os fiéis entram e saem em silêncio.

 

No altar, a voz do padre fala sobre cinzas, penitência e renovação.

 

Entre os rostos dispersos, ele a vê.

 

O traço escuro em sua testa destaca a serenidade de seu olhar.

 

Quando ela percebe sua presença, hesita por um instante, depois sorri, discreta.

 

Ele se aproxima devagar, sem certezas, sem promessas.

 

Apenas um gesto simples, um aceno, um convite sem palavras.

 

Ela respira fundo, como quem hesita entre o passado e o futuro.

 

Então, pega um pequeno papel e desliza pela mesa antes de sair.

 

Ele o abre com dedos trêmulos.

 

“Algumas histórias não precisam acabar. ”

 

Lá fora, o vento ainda arrasta os últimos confetes, mas ele já não se importa.

 

Gabriel Novis Neves

02-03-2025




terça-feira, 4 de março de 2025

PROBLEMAS SEM FIM


Em menos de dez dias comemorarei o aniversário de três irmãos.

 

Dois já ficaram mais velhos em janeiro e fevereiro. Agora, mais três entram na contagem.

 

Em julho mais um, dois em agosto, um em setembro, o último dos oito.

 

Se eu considerar apenas meus filhos, netos e bisnetos, terei um ‘Parabéns a você’ para cantar em todos os meses do ano.

 

E eu sigo correndo na frente, temendo a fita da chegada...

 

Caminho sempre recordando o passado.

 

Enquanto isso, assisto pela TV ao espetáculo deprimente das obras públicas paralisadas neste país — e ao que isso significa para os cofres da União.

 

Aqui em Cuiabá, existem obras abandonadas há mais de quarenta anos, como o Hospital Central — agora chamado Hospital das Clínicas —, que já passou pelas mãos de oito governadores e segue inacabado.

 

O Hospital da Universidade Federal, na estrada de Santo Antônio, acumula mais de uma década de atraso, sem previsão de conclusão.

 

O conceito de hospitais com trezentos leitos já ficou no passado, mas ainda gastamos rios de dinheiro construindo essas estruturas ultrapassadas.

 

Precisamos de governos que levem a sério a saúde pública, criando a carreira de médico do Estado, como ocorre na magistratura, na Receita Federal e nas polícias federal e rodoviária.

 

As universidades por sua vez insistem em formar subespecialistas, que não atendem às reais necessidades do sistema público de saúde, enquanto o interior do Brasil segue sem médicos.

 

Todas as cidades brasileiras que conheci possuem, pelo menos um ‘esqueleto’ de obra pública de estimação abandonada, um monumento à ineficiência.

 

Cuiabá, então, é um verdadeiro cemitério de projetos inacabados!

 

Só as obras prometidas para a Copa do Mundo de 2014 já formam um paliteiro de construções inconclusas.

 

A mais emblemática de todas é a do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), planejado para desafogar o trânsito de una cidade com mais de seiscentos mil habitantes.

 

Inicialmente concebido como BRT, o projeto foi alterado para VLT, e seu custo inflacionado.

 

Os vagões foram comprados, e a estação central deveria ficar em Várzea Grande, em frente ao aeroporto.

 

Para viabilizar a obra, destruíram a principal avenida da cidade até a ponte Júlio Muller, levando comerciantes à falência.

 

O tráfego na avenida da Prainha foi comprometido, e até no Coxipó construíram um elevado cujo único propósito parece ter sido esconder a Cidade Universitária.

 

Depois, o projeto foi abandonado. Os vagões foram vendidos. E uma nova licitação foi aberta para implantar o BRT em Cuiabá.

 

A empresa vencedora pediu concordata e, desta vez, a avenida do CPA foi a escolhida para sofrer com as intermináveis intervenções — agora também paralisadas.

 

E os responsáveis por esse desperdício absurdo de dinheiro público?

 

Mais uma vez, o pagador de impostos pagará a conta.

 

Gabriel Novis Neves

25-02-2025






segunda-feira, 3 de março de 2025

O ÚLTIMO BAILE


Era terça-feira de carnaval e a cidade ainda pulsava sob os últimos acordes da folia.

 

O confete se misturava ao orvalho da madrugada, e os foliões, já exaustos, dançavam com a melancolia de quem sabe que a festa está para acabar.

 

No salão do clube, a orquestra tocava as derradeiras marchinhas, mas os casais que restavam já não pulavam como antes—,apenas rodopiavam devagar, abraçados a uma saudade que ainda nem havia chegado.

 

Entre eles, estava Maria, vestida de Colombina, com o olhar perdido entre as serpentinas que caíam do teto.

 

Antônio a observava de longe. Desde o primeiro dia de carnaval, vinha ensaiando um convite para dançar, mas sempre faltava coragem.

 

Agora, quando a festa ameaçava se desfazer no silêncio da quarta-feira de cinzas, percebeu que era sua última chance.

 

Tomou fôlego e atravessou o salão.

 

Quando chegou perto, Maria sorriu, como se já esperasse por ele há tempos.

 

Sem dizer palavra estendeu a mão.

 

Antônio aceitou o convite mudo, e os dois começaram a girar ao som de um frevo já cansado, que soava mais como uma despedida do que como celebração.

 

Naquele instante, o tempo parecia suspenso.

 

O riso dela era um sopro morno na pele dele; os dedos entrelaçados guardavam a memória daquele instante efêmero.

 

O salão se esvaziava aos poucos, os foliões iam se rendendo ao cansaço, mas Antônio e Maria dançavam como se quisessem prolongar a festa para sempre.

 

Quando os primeiros raios de sol surgiram, a orquestra silenciou. O salão estava quase vazio. Antônio a conduziu para fora, onde a cidade amanhecia sob os vestígios da festa.

 

— Acabou — disse Maria, num sussurro.

 

João sorriu.

 

— O carnaval, sim. Mas e se a gente inventar um outro, só nosso?

 

Maria não respondeu, mas apertou sua mão com mais força.

 

E assim, entre restos de confete e promessas de uma quarta-feira que talvez não precisasse ser de cinzas, caminharam juntos pela rua deserta, como se a festa ainda pudesse durar para sempre.

 

Gabriel Novis Neves

02-02-2025






domingo, 2 de março de 2025

CARNAVAIS PASSADOS

 

Cuiabá já teve Carnaval.

 

Não esse Carnaval de avenidas largas e trios elétricos ensurdecedores, mas um Carnaval de ruas estreitas, confete e serpentina, de marchinhas que ecoavam pelas praças e coretos.

 

Havia blocos improvisados, fantasias feitas em casa, e um entusiasmo que não precisava de patrocínio para existir.

 

No sábado de Carnaval, os rapazes se vestiam de mulher, rodopiavam no asfalto quente, e ninguém se preocupava em parecer ridículo.

 

As crianças corriam atrás dos bloquinhos, catando serpentinas do chão, como se cada fita colorida fosse um pedaço da própria festa.

 

Os clubes sociais se preparavam para os bailes noturnos, onde a orquestra tocava até de manhã, e os casais se formavam entre confetes e olhares cúmplices.

 

Hoje, a cidade dorme.

 

Não há palanques montados, não há batuque na esquina, não há ninguém correndo para comprar spray de espuma no último minuto.

 

As máscaras que um dia sorriram agora estão guardadas em caixas velhas, esquecidas no alto dos armários.

 

O que aconteceu com o Carnaval de Cuiabá?

 

Talvez tenha ido embora junto com aqueles que o faziam acontecer.

 

Os blocos perderam seus líderes, os clubes fecharam as portas, e o tempo, sempre impiedoso, levou a alegria para outros lugares.

 

O Carnaval, que um dia foi tradição, virou lembrança.

 

Mas basta fechar os olhos para ouvir de novo os clarins de Momo.

 

Para ver as meninas fantasiadas de colombina e os rapazes de dominó.

 

Para sentir o cheiro de lança-perfume — quando ele ainda era inocente — e o gosto do sorriso fácil de quem não precisava de muito para ser feliz.

 

A cidade não tem mais Carnaval, dizem.

 

Mas quem viveu, quem dançou, quem cantou, sabe: ele ainda existe, em algum lugar dentro de nós.

 

Gabriel Novis Neves

01-03-2025



GABRIEL e sua irmã YARA, no Carnaval infantil 

N.E. - FOTOGRAFIAS DE DOMÍNIO PÚBLICO NA INTERNET E TAMBÉM DO ACERVO PESSOAL DE FRANCISCO CHAGAS ROCHA 




















Vídeo criado e publicado por FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA no grupo do Facebook "Cuiabá-MT de Antigamente" a partir de registros fotográficos de lentes de Foto Chau e Nenê Andreatto 


CARNAVAL

https://www.facebook.com/share/v/1B618wkgSh/



sábado, 1 de março de 2025

CARNAVAL


Quando criança ouvia os adultos dizerem que o melhor carnaval mato-grossense era o de Corumbá.

 

Muitos deixavam Cuiabá para se divertir lá.

 

Nunca soube ao certo porque Corumbá tinha essa fama. Alguns diziam que era pela animação do carnaval de rua, outros, pela beleza das moças que por lá desfilavam.

 

Divido o carnaval de Cuiabá em dois períodos: até 1953 e depois de 1966 até os dias atuais.

 

Nesse intervalo morei no Rio de Janeiro, onde estudei e conheci o carnaval carioca, com desfiles de cordões carnavalescos na Avenida Central e na Rio Branco.

 

Nos grandes salões do Rio — como os do Copacabana Palace, Hotel Glória, Teatro Municipal, clube Fluminense, Botafogo, Country Clube, Gávea, Automóvel Clube e Iate — o carnaval ganhava um tom sofisticado, com fantasias premiadas e a presença de artistas de Hollyood.

 

Até 1953 o carnaval de rua de Cuiabá era pulsante, com blocos de mascarados e os irreverentes blocos dos sujos.

 

Os corsos desfilavam pelo centro da cidade, trazendo lindas mulheres em carros abertos, distribuindo beijos e simpatia, enquanto eram saudadas com confetes, serpentinas e jatos de lança perfume.

 

Nos desfiles das escolas de samba, destacavam-se as agremiações do Grande Terceiro e do Porto, sendo a mais popular a ‘Pega no Meu Coração’, do lendário Nhozinho.

 

Nos anos 1940 e 1950, os bailes nos salões do Grande Hotel e Clube Feminino eram famosos.

 

Já a partir da década de 1960 o carnaval cuiabano ficou praticamente restrito aos clubes: Sayonara, Dom Bosco, Náutico e, mais tarde, Balneário Santa Rosa, Tênis Clube e Monte Líbano.

 

Novas escolas de samba surgiram, como a Acadêmicos do Pedroca, a Deixa Cair e a Mocidade Independente Universitária, ligada à Universidade Federal.

 

Seus integrantes eram, em sua maioria, alunos, professores e servidores.

 

O diretor-geral da escola era o professor de Educação Física João Batista Jaudy.

 

O samba-enredo era composto pela ala de compositores da Beija-Flor de Nilópolis, e a Reitoria custeava os desfiles.

 

Era um espetáculo ver a escola passar, com suas lindas meninas luxuosamente fantasiadas.

 

Durante os anos em que desfilou, a Mocidade Universitária foi sempre campeã, arrastando multidões para a avenida.

 

Mas, como tudo na vida, o carnaval cuiabano foi se transformando. A folia de rua ficou restrita a um único bloco, a Turma da Laje.

 

Os clubes fecharam suas portas. Brincar na rua já não faz parte da cultura desta geração.

 

Hoje, os foliões se contentam em festejar na Chapada dos Guimarães ou pular no Sambódromo no Rio de Janeiro.

 

Gabriel Novis Neves

24-02-2025



VÍDEO DO CARNAVAL CUIABANO G1


Vídeo criado e publicado por FRANCISCO DAS CHAGAS ROCHA no grupo do Facebook "Cuiabá-MT de Antigamente" a partir de registros fotográficos de lentes de Foto Chau e Nenê Andreatto







ANTIGOS CARNAVAIS - RIO DE JANEIRO