quinta-feira, 22 de abril de 2021

USADO NÃO É VELHO


Estava há mais de cinco anos, sem usar o meu antigo laptop. Muitos chegaram a comentar que o equipamento era um lixo de luxo, que guardava comigo.

Tenho um novo bastante moderno, que uso diariamente.

Não tinha respostas para esse tipo de pergunta, e para me satisfazer inventei que o decano computador é que escrevia as minhas crônicas.

E não foram poucos, os trabalhos que juntos realizamos. Foram mais de duas mil e seiscentas crônicas publicadas no blog bar do bugre, invenção do meu querido amigo João Cunha.

A funcionária responsável pela minha casa, nunca tinha me visto brincando com esta antiga peça.

Fui pego em flagrante quando veio fazer a limpeza no quarto. Ela não se conteve e perguntou o motivo da troca do moderno computador pelo velho.

Fiquei mudo e ela quis me ajudar: O senhor tem amor a esse aparelho!

Respondi-lhe: como vou amar a um objeto!

Amizade também não, pois é impossível pensar nisso.

Daí saiu à resposta para me satisfazer, mas, não sei ao certo desse meu apego.

Quantas vezes em minha vida dei respostas para me aliviar, por exemplo: porque me casei com uma carioca e vim exercer a minha profissão em Cuiabá?

Acho que todos que tiveram o privilégio (!) de uma vida longa, estou com oitenta e seis anos, já passou várias vezes por essa situação de receber uma pergunta sobre decisões tomadas, e inventar uma resposta que mais lhe agrade emocionalmente.

Na verdade não sei responder, e essa dúvida carrego a vida toda.

Tenho tantas perguntas sem respostas, que nem gosto de pensar.

Tento racionalizar aquilo que é emoção para apagar essas dúvidas da minha longa estrada já percorrida.

O meu ciclo biológico está fechando, e só não quero continuar sofrendo com essas lembranças do passado, que fazem parte da minha vida.

Porque voltei afinal, a escrever do meu antigo computador?

Ajudem-me a resolver pelo menos, este pequeninho problema, tão importante para mim.

Depois, prometo colocar antigas decisões que fazem parte da minha biografia, sempre pensando na melhor opção, mas hoje, não convencido do acerto.

Ai vem à desculpa racional: usado não é velho.


Gabriel Novis Neves

21-04-2021

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