Estava
folheando um belo livro de arte e deparei-me com um dos últimos trabalhos do
artista alemão Pieter Pauwel Rubens (1577-1640) - “As Três Graças”.
A
tela foi inspirada na mitologia grega, onde as Graças eram as deusas do
banquete, concórdia, encanto, gratidão, prosperidade familiar e sorte, ou seja,
as graças.
As
Três Graças de Rubens foram retratadas por três mulheres fartas em carne,
símbolo da beleza na época.
Hoje
o que se vê são mulheres esqueléticas, presas à ditadura da estética corporal.
Rostos
esquálidos e corpos que lembram os torturados nos campos de concentração,
apenas, tais como cabides de luxo, emolduradas para destacar as roupas vestidas.
Para
a indústria da moda a coisificação da modelo é da maior importância, uma vez
que todo o foco deve ser dirigido ao verdadeiro objeto de consumo a ser
vendido, a roupa.
Essa
sacada da indústria é perfeita em termos comerciais, e desastrosa em termos
humanos.
Claro,
os nus de Rubens, quando vestidos, nada tinham a impingir ao mercado da época,
ainda não industrializado.
Assim,
o modelo de beleza era o reflexo do que a fêmea tinha de real, as suas formas
curvilíneas exuberantes e a sua sensualidade nata.
Mas,
o pior de tudo, é que essa cruel indústria da moda tratou de estabelecer a
ditadura do anoréxico e, com isso, massificar a juventude mundial em termos
estéticos, tornando-a presa fácil para inúmeras doenças carências e
psicossomáticas.
Nunca
a humanidade precisou de tantos acessórios e de tantos químicos para exercitar
livremente o seu erotismo.
Com
essa ditadura vieram os cabelos alisados, os corpos siliconados, as
panturrilhas masculamente torneadas, os cílios postiços, os rostos botoxados e,
o mais triste, a banalização das ideias em prol da exacerbação das atividades
atléticas sexuais, impulsionadas pelas substâncias químicas e pelos brinquedos
eróticos.
Fácil
entender como novos comportamentos vão trazendo altos lucros a outros setores, tal como numa cadeia cujos
elos vão se formando de uma maneira lenta e progressiva, passando despercebidos
pela grande maioria das pessoas.
Após
tantas queimas públicas do soutien pelas feministas dos anos 60, as mulheres
continuam massacradas pelos ditames da sociedade. Apesar das inúmeras
conquistas através dos séculos, elas não conseguiram ainda a liberdade para
usar os seus próprios corpos de uma maneira fisiológica, despida de imposições
estéticas.
No
reino animal, a fêmea é sempre respeitada e jamais invadida contra a sua
vontade. Apenas na ocasião do cio existe a plena aceitação do macho.
A fêmea mulher, banalizada como coisa, continua
invadida e desrespeitada pelo homem e, principalmente, pelo sistema que,
dia-a-dia, mais a “coisifica”.
Estatísticas
mostram que os estupros crescem de maneira inversamente proporcional à
liberalização dos comportamentos sexuais vigentes e, mais ainda, à coisificação
feminina logo após a primeira infância.
A
excessiva erotização vinculada pelas mídias e pela indústria crescente da
pornografia tem sido o caldo de cultura perfeito para que jovens e adultos mais
desavisados, entrem nessa verdadeira maratona em busca dos ideais de beleza
apregoados a qualquer preço.
Gabriel
Novis Neves
24-03-2013
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