sábado, 20 de março de 2010

Domingo

Para uns transmite tristeza, para outros, paz. De qualquer maneira é um dia diferente. Sinto nas manhãs de domingo um misto de emoções: solidão, inquietação, inspiração e serenidade. É um dia tão rico em estímulos, que lamento que muita gente perca a manhã desse dia especial, para tirar o atraso da semana dormindo até a hora do almoço.

Saio de casa assim que o dia começa a clarear. Caminho alguns metros e um carro para rente ao meio fio da calçada. Desembarcam três lindas adolescentes e o jovem motorista. Observo-os, e um detalhe me chama a atenção. Uma das meninas estava descalça, segurando os seus sapatinhos de salto alto com a mão direita. A sua tênue blusa preta generosamente mostrava um imenso dragão cuspindo fogo na região dorsal, com as chamas atingindo a região cervical. O panorama frontal era mais preciso do que uma boa mamografia.

Continuo a minha caminhada. Com o silêncio da rua ouço o sussurro dos passarinhos, e até o cacarejar alegre de uma galinha anunciando a postura do ovo. E não é que fiquei comovido? Sou um homem com emoções do interior. Durante a semana, com o barulho dos carros e a agitação normal da cidade, esse “cantar” nos passa despercebido. Vou meditando, observando e sentindo a beleza que está à minha volta e que raras vezes percebemos.

Então, de repente, no meio desse devaneio, sou presenteado com um show de automobilismo. Carro lotado. Jovens alterados. Alta velocidade. Curvas em duas rodas, com direito a cantada de pneus, marcas no asfalto e muita fumaça. Será este o retrato de jovens modernos? Quero crer que não.

Vou adiante e passo em frente a um grande hospital. Um grupo de jovens, na maioria mulheres, conversava com grande alvoroço e alegria. Estranhei, pois aquele espírito de descontração não combinava com o local. Provavelmente faltava um componente do grupo que, imagino se encontrava sob cuidados médicos. Acidente físico ou gasoso? Estaria sendo operado ou apenas hidratado? Não sei, mas o ambiente de alegria dos jovens fez o velho médico supor mais em hidratação.

Estou agora na avenida principal. Poucos carros e motos trafegam. O sol começa a castigar - e o relógio não marca nem sete horas. Vou apreciando as mensagens dos outdoors, algumas bem criativas. A mais pitoresca é de um órgão público enaltecendo os seus grandes feitos. Acho até graça! Nós não pagamos altos impostos para que o governo faça exatamente isso? Trabalhar? Mas deixa isto prá lá. Hoje é domingo, vamos relaxar. Até que tento, mas logo adiante topo com um matagal ornamentando as laterais da nossa principal avenida. E olha que ela funciona como cartão de visita da eterna capital de Mato Grosso! É complicado explicar a um turista europeu que estamos na cidade da Copa, e não no início da floresta amazônica em extinção. Já ouvi turistas comentando, ao passarem por esta avenida, da beleza da plantação da soja transgênica.

Finalmente retorno ao meu ponto zero, apressado em colocar no papel as impressões e emoções de uma manhã calorenta de domingo. Amanhã, o que vi hoje, será passado.

Gabriel Novis Neves
07/03/2010

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